Saturday, May 08, 2004



samba pra burro

Acabei de voltar do show do Otto que teve no ICA. Ele estava acompanhado de sua ótima banda que já está com ele há alguns anos, só com o guitarrista diferente, que me desculpem, mas não lembro o nome.
Voltei um tanto decepcionado com o show, e acho triste, porque o último que vi, ele estava abrindo para a Nação Zumbi, ele devia estar muito chapado e o show foi mesmo um porre e o único que realmente gostei foi o primeiro que vi no Sesc Ipiranga. Mas desta vez eu não estou decepcionado com o Otto, e sim com um auê envolvendo o Brasil que está rolando nestes dias aqui em Londres.
Uma grande loja de departamento chamada Selfridges diz estar celebrando o Brasil neste mês. Pelo que me disseram, cada ano eles usam um país como tema e passam todo o mês de Maio divulgando – que se fosse traduzir seria vendendo ou USANDO - este país. E em 2004, o “felizardo” é o nosso Brasil.
Eles trouxeram uma maquete do Cristo Redentor e colocaram na frente da loja (como um menino propaganda), que fica no centrão de Londres, na Oxford Street. Enfeitaram as vitrines de verde e amarelo, tem algumas empresas patrocinando este oba-oba e a brasileirada feliz vai lá marcar presença, passear, mesmo que não vá comprar uma sandália (as originais!) por vinte libras ou nem saiba quem é Otto ou Patrícia Marx, o que importa é que o povão do Brasa tem um novo point (urght) no centro de Londres, e pode ser o lugar que vão para ver outros tantos Brasileiros, de repente trocarem informações, conseguirem um emprego ou só para se sentir em casa já que deve ter muita gente falando Português, porque para muitos falar Inglês aqui é segundo plano. Bom, se vocês fizerem uma busca aqui na internet, vão saber do que se trata, porque eu não estou escrevendo para contribuir com este oba-oba, mas para questionar.
Claro que um grande evento pode levantar muito a bola do Brasil, mas desde que seja fiel, que seja feito por quem sabe com o que está trabalhando, e não por gringos que tenham a idéia apenas do esteriótipo que criaram do Brasileiro, do Brasil.
Eu que amo o Brasil, não seria Brasileiro na visão de muitos gringos, afinal, sou Japonês, nascido no túmulo do samba e não gosto de futebol.
Quero conferir a loja quando tiver tempo e acreditava que mesmo que fosse um Brasil pra gringo ver, estava animado com o lado musical, até ver que nem na música estes caras deixaram de tramar, porque vieram artistas de uma única gravadora. Otto, Jairzinho, Patricia Marx e Wilson Simoninha. Gosto deles e vou querer conferir todos e fiquei feliz ao saber que poderia vê-los todos com exceção do Simoninha em shows paralelos ao que vão apresentar na tal loja. O Otto tocou no ICA e o Jairzinho e a Patricia Marx vão tocar no Momo’s, onde já tenho carteirinha.
Agora voltamos para o início do post: As apresentações dos artistas são curtas durante o dia inteiro, para que o povo possa vê-los indiferente do horário que passar por lá, e os músicos ficam à disposição do evento, como se fossem aqueles caras que se vestem de Mickey Mouse e ficam acenando para as crianças na Disney, que deve ser um trampo chato pra caralho. E o Otto quis dizer que estava feliz, mas ele largou mesmo foi um: Tô cansado pra caralho . E os caras são ótimos e tocaram uma horinha, mas eu gosto de show onde o músico está presente, onde você sente a energia da banda, e neste tudo o que eu vi foram músicos que fizeram vários pocket-shows durante uma semana em uma loja de moda para um público indiferente para o som deles e que estavam mais afim de terminar esta última apresentação, mesmo que fosse a única em palco mesmo e voltar para casa. Me irritou também a merda de um telão no fundo do palco, rolando um DVD de escolas de samba, que definitivamente não era fundo de palco da nova turnê do Otto, até quando o Brasil vai ser samba, mulata e futebol (?) e com legendas que ficavam aparecendo no rosto do baterista, DVD que acaba no meio do show, com o letreiro subindo, depois com chuvisco e reiniciando, um trabalho nojento, e que claro alguém do público gritou para desligar a porra do telão (quem me conhece sabe quem gritei)... E eles estavam tão podres que nem ligaram para nada.
No final, vi um velhinho que tinha visto antes, todo estiloso, hippie, daquele do tipo que veio andando do Woodstock e chegou agora por aqui, e o cara tira uma câmera digital da bolsa para fotografar o Otto. E o hippie com a câmera digital na mão me chocou (sim, eu ando me chocando com muitas coisas ultimamente) e fui embora sem saber se ia ter mais algum bis. It's the end of the world...

Tô de cara com tudo isso, tô de cara com este povinho que acha tudo ótimo mesmo que não esteja entendendo nada do que está rolando, tô cansado desta visão deturpada que muita gente tem dos Brasileiros, tô cansado desta vida de proletário, eu preciso estudar logo que tá foda ficar vendo o tempo passar, vendo absurdos acontecerem e não ter uma titulação para fazer algo onde alguém possa me ouvir sem eu ter que ficar gritando e pau no cu destes merdas que acham que podem fazer o que bem entendem com qualquer pessoa ou no caso, qualquer país.


Terceiro Mundo se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão!



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