Tuesday, February 28, 2006

só as mães são felizes

Dia desses soube que "só as mães são felizes" é uma frase de Jack Kerouac. Eu sempre creditei à Cazuza. Living and learning.
A L&PM lança amanhã o Diários de Jack Kerouac numa edição convencional, o que faz o preço ser um pouco mais alto: R$49,00. Mas já entrou na minha wishlist.
Um trecho do livro que nos disponibilizaram:

Segunda-feira, 23 de agosto de 1948

Quanto a mim, a base da minha vida vai ser uma fazenda em algum lugar onde vou produzir parte de minha própria comida, e, se necessário, toda ela. Um dia não vou fazer coisa alguma além de sentar embaixo de uma árvore para ver minha lavoura crescer (depois do devido trabalho, claro) – e beber vinho caseiro, e escrever romances para edificar meu espírito, e brincar com meus filhos, e relaxar, e gozar a vida, e brincar, e assoar o nariz. Eu digo que eles não merecem nada além de desprezo por isso, e a próxima coisa, claro, eles todos estarão marchando para alguma guerra aniquiladora que seus líderes corruptos começarão para manter as aparências (decência e honra) e "fechar as contas". (...) Caguei para os russos, caguei para os americanos, caguei para todo mundo. Vou viver a vida do meu jeito "preguiçoso coisa ruim", é isso o que eu vou fazer.


[jack kerouac]

Dentre os lançamentos também temos um pocket-book do velho safado: Misto Quente.

Ainda nas novidades, dia 10 de março estréia Ask the Dust nos cinemas mundo afora. Espero que venha para Bijoux City também.
Inspirado em Pergunte ao Pó de John Fante, este filme do diretor Robert Towne nos apresenta agora rostos definidos para Arturo Bandini (Colin Farrell) e Camilla Lopez (Salma Hayek). Mas como sou um cara que gosta dos que tem fome, dos que morrem de vontade, dos que secam de desejo, dos que ardem, quero mais é saber quem fará o papel de Sammy.
Como diz Clarah Averbuck: Nem Arturo, nem Camilla. Sammy.

O que já está nas telas, mas ainda não em Lixeira, é o indicado ao Oscar Capote. O amigo Biajoni já viu e escreveu um pouco sobre o filme e conta histórias da vida do jornalista/escritor em seu blog.
Agora vou tentar iniciar a leitura de A Sangue Frio. Na apresentação de Ivan Lessa, soube que Capote quando confrontado com On The Road de Kerouac, disparou: Isso não é escrever. Isso é bater à máquina.
Eu, hein?

Tenho bons registros deste feriado, mas um legal foi cantarolar Congênito com o grande PC.
Amanhã tudo volta ao normal, quarta-feira de cinzas, pergunte ao pó...

Monday, February 27, 2006

eu vivo sozinho e apaixonado, não tenho ninguém aqui do meu lado,
vou me entorpecer bebendo vinho, eu sigo só o meu caminho




Uma homenagem aos meus bons e velhos amigos que sempre me acompanham nas bebedeiras de vinho. Chapamos com o barato e saboroso vinho de garrafão vendido no caminhão. Mas como vinho é uma bebida nobre, não bebemos o simples e barato Crevelin. Nós o chamamos: Chateau de Caminhón.

Quem não gosta de vinho
bom sujeito não é
É ruim da cabeça
Ou não leu Baudelaire.


Belíssima sacada de Marcelo Ferreira tungado do LadoBdeMara.

Sunday, February 26, 2006

como john lennon pode mudar sua vida

Eduardo Palandi, assinando com Pablo Kossa e Alexandre Petillo, lança seu primeiro livro de nome atrativo (como john lennon pode mudar sua vida)na Bienal do Livro. Petillo criou a revista Zero, colabora em vários jornais e sites e é idealizador de outro projeto literário que está na minha lista de compras: Noite passada um disco salvou minha vida. Pablo Kossa é jornalista de Goiânia, curte rock e escreveu Em Terra de Cowboy Quem Toca Guitarra é Doido - 10 anos de Goiânia Noise. Palandi mora em Brasília, escreve o blog LifeInSlowMotion, curte Sinatra e eu recomendo.


Saturday, February 25, 2006

bloco do eu sozinho

Sempre que chega o carnaval me lembro de ouvir uma canção chamada Quando o Carnaval Chegar de Ciro José que tem no Maravilhas Contemporâneas do Luiz Melodia.
Este disco do Melodia tem também Congênito que gosto muito, porque concordo que se a gente falasse menos, talvez compreenderíamos mais. Com um som típico dos anos 70, é neste disco que você encontra a clássica Juventude Transviada.

Carnaval, carnaval, carnaval
Fico tão triste quando chega o carnaval
Eu me lembro duas noites de alegria
E recordo que perdi minha Maria

Maria, era minha alegria
Quando chegava o carnaval
Nós brincávamos noites e dias

Ela era minha Maria
Ela era minha alegria
Que morreu no terceiro dia de folia
Carnaval


[ciro josé]

Friday, February 24, 2006

definetely maybe

Quer dizer que os ingressos de estudantes do show do Oasis no dia 15 de março já se foram?
Como podem esgotar assim tão rápido? As vendas começaram hoje, não foi?
Quer dizer que o povo realmente anda curtindo uns rocks, hã? Interessante.
E eu achava que Oasis tinha acabado depois do terceiro disco...
Comprar ou não comprar?
Se eu gastar 120 dinheiros em um show, vou ter que comer Cup Noodles por vários dias, porque não vai sobrar dinheiro para os bons almoços nos restaurantes da cidade, quiçá nem para as cervejinhas semanais.
Mas ficar sem ver mais um grande show que vem pro Brasil também é mal.

E aí, meus caros?
Vou ou não vou?
E nada de trocadilhos, por favor.

Thursday, February 23, 2006

seu jorge

Chatterton, suicidou
Kurt Cobain, suicidou
Vargas, suicidou
Nietzsche, enloqueceu
E eu, não vou nada bem

Chatterton, suicidou
Cléopatra, suicidou
Isocrates, suicidou
Goya, enloqueceu
E eu, não vou nada nada bem

Chatterton, suicidou
Marc-Antoine, suicidou
Van Gogh, suicidou
Schumann, enloqueceu
E eu, puta que pariu não vou nada bem...

Tuesday, February 21, 2006

be my baby

O site do Takeda agora está em novo endereço, e logo contará com podcasts.
Visite o Spectorama e curta as fotos feitas com uma Lomo.

Para quem não conhece, André Takeda é autor do Clube dos Corações Solitários e do Casino Hotel, literatura pop made in brazil.
Além de já ter me emocionado com vários textos bacanas e fazer fotos bem legais, Takeda foi o responsável pela apresentação de muitas bandas legais para o meu universo.

Spectorama é uma homenagem ao produtor e compositor americano Phil Spector. Por trás de seus óculos escuros, Spector revolucionou a música pop no final dos anos 50 com o seu wall of sound. É autor e produtor de diversos clássicos, entre eles 'Be My Baby', interpretada pelo girl group Ronettes.

Spectorama acredita seriamente que 'Be My Baby' é a melhor música de todos os tempos.

sing your love!

Sing your love foi o que Bono disse, silencioso leitor.

Sunday, February 19, 2006

poeta camarada

Outro dia revelei uma das minhas manias para o compositor, cantor e amigo carioca Luis Capucho e ele confessou fazer o mesmo, olha aí:

Fico ouvindo uma música que gostei por muito tempo, seguidas vezes, até ela perder o enlevo e não me deixar mais no lugar especial em que fica meu coração, quando sob seu efeito. O Ruivo também faz isso, o Shiraga também, e soube de uma sueca que foi processada pelos vizinhos, porque fazia isso no último volume com uma música americana.

Também têm aquelas outras músicas que ao invés de irem perdendo o encanto nas repetidas vezes em que as ouvimos, ao contrário, vão ganhando sentido, vão descobrindo prazeres aos nossos ouvidos e tal. Essas últimas são mais duras que as do primeiro tipo, mas apenas no início, porque depois se tornam tão macias e fluidas quando as primeiras, ficam, no final, encantadas também, e tão gostosas quanto.

Ganhei uma música francesa que fiquei ouvindo. É uma música cantada pela Patrícia Kass. Depois ganhei uma cantada pela inglesa Joss Stone e fiquei ouvindo. Estou ouvindo outra vez...

Que coisa!


Leia mais sobre o dia-a-dia de Luis Capucho no seu blog azul clicando aqui.

um lugar do caralho

Assistir Stones pela rede globo com prováveis comentários que não gostaria de ouvir de apresentadores que não estou afim de ver?
Obrigado, não.

Terceira edição de uma festa com som ao vivo, com gente afudê, cerveja gelada e barata?
Sim!
Desta vez a festa contou com a presença do Retroverso de Piracicaba e com os grandes figuras do Lazo Black de Socorro.

Quando encontrarem uns flyers espalhados pela cidade com o nome Lado B, peguem o seu e apareçam na festa. O Eduardo - namorado da Monica - diria na sua adolescência que é uma festa estranha com gente esquisita. Mas o Jupiter Maçã descreveria como um lugar do caralho.
"A próxima edição deve rolar no final de Março", disse o organizador Renato. Além de organizador e morador do lugar do caralho, Renato é membro do Salad Star, banda de Santos que já se apresentou em outra edição deste evento alternativo de Limeira.

a televisão me deixou burro

Todo telespectador tem o seu dia de inteligência.
É o dia em que ele desliga a TV e vai ao teatro.


[paulo autran]

Saturday, February 18, 2006

Prólogo para Pergunte ao Pó
John Fante - por Clarah Averbuck


Pergunte ao pó na estrada! Pergunte às árvores solitárias onde o Mojave começa. Pergunte a elas sobre Camilla Lopez, e elas sussurrarão seu nome. Sim, pois o último a ver minha garota Camilla Lopez foi um tuberculoso vivendo à beira do Mojave, e ela se dirigia ao Leste com um cachorro que dei a ela, e o cachorro chamava-se Pancho, e nunca ninguém viu Pancho de novo também. Você não acreditará nisso. Você não acreditará que uma garota se aventuraria no deserto do Mojave em Outubro sem nenhuma companhia exceto um cachorrinho policial chamado Pancho, mas aconteceu. Eu vi as pegadas do cachorro na areia, e vi as pegadas de Camilla ao lado das do cachorro, e ela nunca voltou para Los Angeles, sua mãe nunca a viu de novo e a não ser que um milagre tenha acontecido, ela está morta lá no Mojave hoje, e Pancho também. Não preciso criar um enredo para isso, meu segundo livro. Aconteceu comigo. Eu estava apaixonado por ela e ela me odiava, e essa é a minha história.

Pergunte ao pó na estrada. Pergunte ao velho Junipero Serra no Plaza, sua estátua está lá, assim como as faixas na frente dele onde acendi fósforos, fumei cigarros e assisti a humanidade passar, eu, John Fante e Arturo Bandini, dois em um, amigo dos homens e bichos. Aqueles foram os dias! Eu vagava pelas ruas e as sugava e às pessoas nelas como um homem de mata-borrão. Arturo Bandini, com um conto vendido, grande escritor sonhando grandes planos. Ainda posso ver aquele cara, aquele Bandini, com uma revista de capa verde debaixo do braço, perpetuamente debaixo de seu braço, andando por essa cidade com uma tolerância gentil com homens e bichos, um filósofo, ele era, dos jovens, a história de um escritor que se apaixonou por uma garota de um bar e foi mandado embora.

Mas olha, deixa eu tentar contar a minha história. Me apaixonei por uma garota chamada Camilla Lopez. Entrei em um café em uma noite, e lá estava ela, e para sempre, até agora, esta noite, quando escrevo, engasgo quando penso na beleza daquela garota. Ela estava lá, ao meu lado, era uma garçonete em um boteco, me trouxe café e achei o café vagabundo e nós conversamos. Então voltei de novo e de novo, e logo estava tão loucamente apaixonado que me comportava como um bobo, e o tempo todo ela amava outro, ela amava um bartender no Liberty Buffet onde trabalhava, e o bartender não a suportava. Então ela saiu comigo para esquecê-lo, foi a todos os lugares comigo, e eu era maluco por ela, e piorei, e ela piorou pelo bartender. Começou a fumar maconha. Me ensinou a fumar. Pirou. Foi para um hospital psiquiátrico. Ficou lá por um mês. Saiu e eu a vi de novo. Ainda era apaixonada por Sammy, o Bartender. Ele não a tolerava. Ele não a tolerava porque ela era uma simples mexicana e ele era americano e ela estava abaixo dele, e essa é a história - isso é o tema de Ramona, mas dessa vez é um ítalo-americano contando, e ele, Bandini, é compreensivo com a garota, porque sabe como é esse negócio de preconceito social, e ele a ama loucamente e ela não o entende. Ele é um escritor. Ele está sozinho em Los Angeles. Ele escreve sonetos para essa garota. Ela lê os sonetos e joga-os na rua. Pergunte ao pó na rua, pergunte à serragem do Liberty Café, pergunte a maldita serragem suja naquele lugar e ela dirá que recebeu pedacinhos de papel e eles eram meus sonetos, porque ela não queria saber de mim, eu apenas a distraía, ela era louca pelo americano Sammy.

Você não acha que eu tenho uma novela? Ouça, droga, conheci Camilla e na primeira noite que estivemos na praia e nadamos nus, e ela nadou para longe, para além da rebentação na Baía de Santa Mônica, nós dirigimos até lá no carro dela, e nadamos, lá debaixo do luar, garota linda, Camilla linda, oh como eu amava aquela garota, e inferno, com que mão imunda ela me tratou, ela pensava que eu era um lunático, que dizia coisas engraçadas, ela nadou para longe, longe demais para uma garota normal, e naquele oceano gelado às duas da manhã, e quando a vi sob o luar, naquela primeira noite, tive um palpite de que ela era o tipo de garota que sucumbia sob pressão social, havia algo sensível e belo sobre hoje e sempre, garota maravilhosa, cabelos negros, pele creme, nadando ao luar, me desafiando a nadar até onde estava, e eu não fui, nadei um pouco e cansei e então ela veio e nos enrolamos em um cobertor na praia e fomos dormir - um casal de garotos nus, mas senti, deitando ao seu lado naquela hora - aquele sentimento de que jamais possuiria aquela garota, senti que de alguma forma ela era veneno e que jamais aconteceria, senti paixão sem desejo, senti sua estranheza, senti em mim com a certeza do peito de minha mãe, essa coisa devorando uma linda garota mexicana que pertencia àquela terra, sob aquele céu, e não era bem vinda. E eu, o compreensivo, o amante de homens e bichos, pergunte àquela areia ao longo da Baía de Santa Mônica se o grande Arturo Bandini foi tão grande amante naquela noite, não não não, porque sentia pena dela como um homem com pena de sua garotinha e não era paixão que sentia mas apenas desejo, e foi só o que houve. Então às cinco da manhã, com o sol subindo ao Leste, dirigimos até Wilshire e ela estava tão satisfeita por eu não tê-la tocado, estava dirigindo o carro, e disse uma coisa estranha e significativa, lembro das palavras exatas, disse, "Essa foi uma noite tão linda. Nunca acontecerá de novo." Mas lá estava eu sempre com a suspeita de ter agido como um bobo, não apenas naquela noite mas em todas as noites em que estive com ela, quando visitamos muitos lugares estranhos e fascinantes nessa grande cidade. Falo de Hollywood com seu blábláblá glamuroso inútil? Dos filmes? Falo de Bel Air e Lakeside? De Pasadena e seus picos quentes? - não e não mil vezes. Digo que este livro é sobre uma garota e um garoto em uma civilização diferente: isso é sobre Main Street e Spring Street e Bunker Hill, sobre essa cidade não longe de Figueroa, e ninguém famoso está neste livro e nada notório ou famoso será mencionado porque nada disso pertence a esse livro, ou estará por aqui muito mais tempo. Isso é Ramona ao contrário. É bom. É eu.

Então chamo ao meu livro "Pergunte ao Pó" por causa do pó do Leste e do Meio-Oeste nessas ruas, e é um pó onde nada crescerá, uma cultura sem raízes, uma miserável busca desesperada por entrinchamento, a fúria vazia de pessoas perdidas e desesperançadas, sedentas por alcançar uma terra que jamais pertencerá a elas. E uma garota desgarrada que pensava que os desesperados é que eram felizes, e que tentou ser um deles.

Arturo Bandini, eu, grande escritor, com um conto vendido para o American Mercury, a história sempre no meu bolso para provar meu sucesso enquanto eu andava pela Opera House e via os riquinhos entrando, às vezes escorregando da multidão para acidentalmente tocar um xale, só um cara passando, desculpe, moça, e pelas longas horas da noite eu pensava nela, imaginando quem seria - talvez até a heroína da minha grande novela, falando com ela enquanto as luzes do Hotel St. Paul piscavam vermelhas e verdes e jogavam cores em minha cama.

Aqueles foram os dias. Pergunte ao pó na estrada, pergunte às teias de aranha em meu quarto no St. Paul, aos ratos pelos cantos do quarto, ah, ratos tão amigáveis, eles eram meus bichos de estimação, porque eu falava com aqueles ratos. "Olá, rato, como está você esta noite, onde estão seus amigos?" Claro, um amigo dos homens e dos bichos, alimentando os ratos para torná-los meus amigos, um grande homem, uma alma generosa, leitor de Thoreau e Emerson, um grande futuro escritor que tinha de ser tolerante, espalhando migalhas para meus ratos comerem à noite com as luzes do St. Paul ligando e desligando e eu deitado olhando-os ir e vir, até que teve que acabar, eles se apegaram demais, eles subiam em minha cama e sentavam aos pés, nós éramos grandes amigos, mas droga eles se multiplicavam como chineses e o quarto era muito pequeno.

Falo como um lunático? Então me dê a demência, me dê aqueles dias de novo. Me dê uma novela excêntrica daquele que sentia pena da humanidade, grande pessoa Bandini, realizador de êxitos significativos, o dó de tudo, a cidade absurda à minha volta, sortuda madrasta do meu talento, e acima de Angel's Flight, duzentas escadas acima de Bunker Hill no meio da cidade, degraus consagrados, senhor, Bandini os escalou à imortalidade! Um dia, vocês pessoas, seus grunhidores-de-ãrrã¹, esses degraus badalarão com minha memória, e além daquela noite naquele muro alto haverá uma placa de ouro, e sobre ela um busto - a imagem do meu rosto. Estou sozinho agora? Pfff! Minha solidão traz frutos, e haverá uma Los Angeles de amanhã para lembrar que uma voz escalou esses degraus, e Benny, o Mecânico na esquina da Terceira com a Hill chorará de alegria enquanto conta a seus netos que um dia falou com um homem das eras. Daí para meu quarto, para conversar comigo mesmo no espelho. Ou talvez para praticar um pouco para meus dias de fama, para arrumar o espelho em um ângulo, para ver como fico sentado à minha máquina de escrever, o grande em pleno trabalho, respondendo perguntas para a imprensa, piscando pacientemente enquanto os flashes explodem. "Cavalheiros, cavalheiros! Por favor! Meus olhos, cavalheiros - afinal, eu também tenho meu trabalho, vocês sabem." Gargalhadas dos cavalheiros da imprensa. "Jesus, aquele Bandini, um bom sujeito, a fama não subiu à sua cabeça. Igual a qualquer um de nós, caras normais de jornal-realmente um bom sujeito."

Pergunte aos corredores empoeirados, pergunte ao saguão empoeirado, pergunte às pessoas empoeiradas no saguão empoeirado do St. Paul, as empoeiradas pessoas cansadas e velhas e prestes a se tornarem pó, aqui para morrer, os velhos caras, o pó de Indiana e Ohio e Illinois e Iowa em seu sangue, para empoeirar e morrer em uma terra desenraizada e empoeirada. Seis anos atrás e tantos já são pó, mas há alguns que lembrarão do grande escritor, nenhum pó em sua boca, na, na, nenhum pó em sua boca, grande mentiroso escritor falando sobre grandes histórias no Saturday Evening Post e provando com um conto em uma revista verde. Grande escritor, freqüentador de sebos empoeirados, levantando revistas empoeiradas e soprando o pó de sua amada história, comprando-as todas para que não se tornassem pó. Sim, pergunte ao pó na estrada.

Ho hi ho, grande escritor escrevendo cartas para a mamãe, grande escritor achando difícil, mas olha, mamãe, tenho uma história saindo no Atlantic, no pacífico², então mande cinco dólares, mamãe, mande cinco dólares. Então com cinco dólares, com dez dólares, grande escritor com a revista verde em uma espelunca falando com loira empoeirada, falando para a grande loira sobre dias melhores. Ela leu "Carissima Mia", de Arturo Bandini? Não, então que pena. Ela leu "Mea Culpa", de Arturo Bandini? Sim, ela leu. Estranho. Porque nunca foi escrito. Mas cinco dólares e dez dólares, lá do pó do Colorado, para ajudar o garoto da mamãe - mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa.

Um livro falando de gente, empoeirada gente selvagem. A verdadeira Los Angeles, Bunker Hill, aquela parte da cidade abaixo de Figueroa, e Arturo Bandini sonhando com dias melhores. As pessoas que cruzaram seu caminho: Marcus, o vendedor de vinho, que me deu um emprego como lavador de pratos porque achava que eu escrevia séries para o SatEvePost. Senhora Adolph Lang com seus gordos peitos rosados que me ofereceu pois era a mãe de Deus e eu deveria repartir o leite da vida. Dave Myers, o comunista na esquina da Terceira com a Hill e sua perna aleijada de onde vendia maconha. As senhoras que eram Escolhidas de Deus e tinham que fazer sacrifícios com Sangue do Cordeiro, mas elas não tinham cordeiro, então mataram um belo gato siamês. O Crioulo gordo que levou Camilla e eu pelo negro e sinistro caminho para a Avenida Central e por umas escadas raquíticas para um quarto em um hotel abandonado onde homens e mulheres jaziam como mortos, e o Crioulo gordo jogando-os para fora das camas, abrindo os colchões e nos vendendo maconha das fendas nele. Mais tarde, em meu próprio quarto, fumamos a maconha. Um cigarro, nenhum efeito. Dois. O quarto turva. O corpo de Arturo flutua. Ele está acima do chão, uma polegada, duas. Para o alto e para o alto e oh, mundo absurdo, Camilla absurda, e Arturo riu e riu, mas Camilla não, sua boca amaciando, saliva branca como fios de seda grudados em sua boca lasciva, abrindo suavemente para dizer seu nome, Arturo, Arturo. Sim e amém. Coisa grande. Jesus, que novela! As duas lésbicas tocando piano no Embassy, tocando valsas de Strauss para Camilla enquanto Arturo fica puto e cospe cerveja no piano e no cabelo da violinista. Os pintores bêbados do estúdio acima, os pintores desesperançados, escola de S. McDonald Wright, o último vestígio de um movimento de pintura para unir o Leste e o Oeste. As centenas de clubes vagabundos na Quinta Avenida, cravejados de belas mulheres, garotas escrevendo para casa em Iowa e Indiana, contando que estavam acontecendo, acontecendo na cidade grande, pfff, elas não estavam acontecendo, estavam fodendo tudo e todos, filipinos e japas e crioulos em um lugar abundante em beleza excessiva. Ah, aqueles clubes, onde aprendi a vagar e perder tempo, às vezes com dinheiro de outro conto vendido, às vezes falido, freqüentemente pegando dinheiro emprestado das garotas.

A pobre caixa da igreja do velho Plaza, de onde roubei 60 centavos porque eu era pobre, não era? A pista de dança filipina onde os tiras davam batidas atrás de drogas, os tiras correndo, as luzes apagando, os tiras gritando e lutando loucamente na escuridão, e os filipinozinhos calmos escondidos nos cantos escuros, sacando suas lâminas com a rapidez de balas de metralhadora nas pontas de seus dedos e esfarrapando os rostos dos tiras.

Os fantásticos e os estranhos e os bonitos: um dia uma mulher bela demais para este mundo veio e em asas de perfume, não pude suportar, não pude me segurar e a segui, quem ela era eu nunca soube, mulher em uma pele de raposa vermelha e um chapeuzinho atrevido, andando atrás dela porque era melhor do que um sonho, vendo-a entrar no Bernstein’s Fish Grotto, observando-a em transe pela janela a nadar com rãs e trutas enquanto comia e quando acabou o garoto entra no Grotto, senta-se na mesma cadeira em que ela sentou, toca o guardanapo que ela usou, porque ela era tão linda e - apenas uma tigela de sopa, garçom, não estou com muita fome, apenas uma tigela de sopa por quinze centavos. Amor em um instante, uma heroína de graça e por nada, para ser lembrada através da janela entre trutas e rãs.

A Fome de Hamsun, mas esta é uma fome de viver em uma terra de pó, fome de ver e fazer. Sim, A Fome de Hamsun. Clarence Melville, o veterano de guerra hispano-americano bêbado, morava ali na frente. Ele tinha um quarto mais barato, sem serviços. Ele também estava cansado de laranjas. Ele tinha um carro. Entramos nele uma noite. Ele sabia onde conseguir carne. Dirigimos até San Fernando. Estacionamos o carro. Rastejamos por baixo do arame farpado até o pasto. Andamos na ponta dos pés até o celeiro. Lá estava o bezerro. Clarence bateu-lhe na cabeça com uma marreta. Arrastamos a coisa ensangüentada até o carro e voltamos para Los Angeles. Arrastamos de volta para seu quarto. Deus, que noite aquela! O bezerro não morria, não importava o quão forte batíamos. Então o sangue no chão, no tapete, nas paredes, na banheira. Não comi nada daquilo. Sangue no saguão, e a polícia veio. Encontraram Clarence em seu quarto, carneando o bezerro. Ele pegou sessenta dias, e o tempo em que esteve em julgamento e preso, fiquei em meu quarto, passei boa parte do tempo rezando, não para Hamsun ou Heine, mas para Nosso Senhor Jesus Cristo. Salve-me, Senhor, sou inocente.

Pergunte a Camilla Lopez. Pergunte a ela. Conte a ele, Camilla. Conte a esse editor cabeça dura sobre nós. “Bom, olha só, meu nome é Camilla e Arturo me amava, e eu o achava tão bobo, ele me escrevia sonetos e eles não faziam sentido. Mostrei-os aos advogados bêbados no Liberty Buffet, e eles riram, então você vê que ele era bobo porque até os advogados riram. Uma vez eu falei, disse, Arturo, quero ser esperta como você. Então ele me comprou uma cartilha, isso foi logo que nos conhecemos, ele comprou uma cartilha e me disse para aprender cinco palavras por dia, e eu aprendi - no primeiro dia - mas ele não era como Sammy, o Bartender. Oh aquele Sammy! Que olhos tinha aquele Sammy, e ele era um homem, não um escritor bobo, não um maricas, e eu amava aquele Sammy, e ele me odiava, oh Deus ele me odiava. Porque eu era mexicana, ele me chamava de “mexicanazinha”, ele me chamava de “sebosa”, ele me magoava tanto. Mas ele! Esse Arturo, ele me disse para ter orgulho de ser mexicana, e até disse que os dóceis herdarão o mundo, Jesus, eu não queria o mundo, eu só queria o Sammy e joguei a cartilha na cara dele, porque gosto que homem seja homem, não gosto de homem que é só palavras, palavras, palavras, era tudo que ele era, esse Arturo, pergunte à cama onde dormimos, cinco vezes lhe dei sua chance, mas ele nunca me tocou e eu balancei meu cabelo e ri e disse, Arturo, você não é homem, tem algo errado com você, porque você não é homem. Mas eu nem queria ele mesmo, nem liguei, eu queria esquecer Sammy, e tinha Arturo na cama e ele estava chorando, dizendo que não sabia mas que não conseguia, ele me amava tanto, ele me amava tanto. Eu ia para seu quarto no St. Paul Hotel, jogava pedrinhas na sua janela, e ele me puxava pra dentro, e eu ficava, porque sabia que ele não me tocaria, então eu o odiava porque ele ficava falando que eu deveria ter orgulho de ser mexicana, daí eu o desafiei a me tocar, levantei meu vestido e joguei em sua cara e ele sabia tanto e era tão esperto com as palavras, ele corou e disse por favor, não faça essas coisas, Camilla. E quando fomos na galeria de tiro na Main e atiramos em pombos de argila, quantos eu derrubei? Todos! Todinhos. E ele? Ele errou todos! Não acertou em um - mas Sammy não era assim, Sammy também derrubava todos. Nós passeávamos de noite, Arturo e eu. Passeando pela Terminal Island, por San Pedro, e eu gostava de umas coisas malucas, como montar em um caminhão de óleo, mas o Arturo subia? Não ele não subia, não ele dizia que era absurdo, era assim que ele dizia, mas o caminhoneiro não achava, não, o caminhoneiro riu, e eu deixei o Arturo lá e voltei com o caminhoneiro. Então ele aparecia no Liberty depois daquilo, choramingando pra me ver e me dando um poema mas ele me deixava tão furiosa porque ele não era como Sammy, mesmo que Sammy me batesse, mesmo que Sammy me chamasse de mexicanazinha. Mas às vezes ele era fofo, às vezes ele me dava flores, me deu uma flor de cada vez e dizia que eram camélias, como meu nome, então eu acho que aprendi algo com ele afinal de contas, porque não sabia que aquelas florzinhas brancas e cor-de-rosa tinham o mesmo nome que o meu. Mas eu nem ligava muito, elas não tinham metade do cheiro bom das gardênias.”

E eu, Bandini, destruído e rastejando no pó, para morrer logo. Então escreva uma carta de suicídio, Bandini, escreva uma das boas - uma das longas para Camilla. E assim foi feito, uma longa carta de suicídio escrita com um coração partido, as lágrimas caindo entre as teclas através da longa noite em que escreveu, então ele dormiu em sua cadeira e rastejou até a cama, cansado demais para cometer suicídio. E de manhã, no café, leu sua carta de suicídio e rapaz, era doce! Oh rapaz tudo que ele precisava era um título e achou e despachou pelo correio e em alguns dias havia um cheque e um bilhete do editor da revista verde: “Caro Bandini - esse é um dos melhores textos que já lemos. Estamos contentes em tê-lo e esperamos que nos mande mais. O cheque está em anexo.”

Bandini, grande humorista, correndo Angel’s Flight abaixo para mostrar a história para Camilla: olha, é maravilhosa, muito engraçada. Uma nova face do meu talento: sou um humorista! E ela leu e riu, e ele morreu a morte que esqueceu de morrer naquele noite, pois esperava que ela visse a tragédia, mas não, até ela achava engraçado.

Pó em minha boca, pó em minha alma, tão longe dos empoeirados para o mar verdinho, com uma garota de vestido verde para Long Beach para um quartinho em Long Beach olhando o mar, e a noite toda uma garrafa de gim e a garota vestida de verde, chamando-a de Camilla por engano, até que ela gritasse; “Pára de me chamar de Camilla! Meu nome é Doris, não Camilla.” Dormindo com a de verde, fingindo ser Camilla, aquela noite inteira e o dia inteiro perto do mar - 200 por outra história e terei minha Camilla do meu jeito, porque eu te fiz Camilla do meu jeito. Aquele dia inteiro e no fim da tarde uma paralisia de morte sobre a terra, um silêncio sussurrado de pó enfurecido e de repente o quarto está oscilando, a casa está desmoronando, as paredes rugem, o pó sobe, as mulheres gritam por todos os lados e quando chegamos à rua nenhum pássaro voa, não há crepúsculo naquela tarde de março, apenas pó do terremoto e no pó e nas ruínas os mortos espalhados e eu entrei em pânico, a terra convulsionando de ódio pelos meus pecados, porque a terra me odiava e a todos nós, os mortos debaixo de lençóis ensangüentados nos gramados, os pássaros sumidos, e pó sobre a terra. Então correndo para Los Angeles, esperando que ela esteja morta, esperando que Camilla esteja entre aqueles que voltaram ao pó.

Mas um grande homem deve perdoar, então o grande homem sentou em seu quarto e ponderou sobre a alma atormentada de seu amor e condenou-se por sua vergonha - ela não era mais culpada que qualquer boa garota americana seria por gritar sua aversão pela vulgaridade e brutalidade da lower Main Street. Uma carta de desculpas era necessária, a ser escrita com palavras bem escolhidas e em pena e tinta sobre papel branco e simples, assinado com todos os floreios de uma assinatura cuidadosamente praticada. Antes tarde do que nunca, uma carta cuidadosa não admitindo seu grande amor e terminando com “cordialmente”.

Mais algumas noites e de novo o barulho das pedrinhas na minha janela e ela estava lá embaixo sorrindo, ela perdoou e esqueceu e para provar sua generosidade, dormiu comigo enquanto eu revirava e estremecia de desejo sem paixão.

Então os dias trouxeram a mudança de Camilla, a perda de suas carnes, os olhos enevoados, a lassidão, as mentiras, mentiras, mentiras. A noite em que apareceu com um olho roxo: um acidente de carro, ela disse. Então Sammy pegou tuberculose e teve que ir para o deserto e ela o seguiu até lá e ele a repeliu, disse para que ficasse longe dele, que queria ficar sozinho e morrer sozinho na cabana que construíra à beira do deserto.

Sammy, meu inimigo, ele também tornou-se escritor e ela trouxe suas débeis histórias estúpidas para mim, “porque você é esperto, Arturo, você pode ajudar Sammy a virar um escritor.” E eu li e ri da diversão que teria destruindo-as em pedacinhos e foi o que fiz: três histórias que ele mandou e frase por frase eu as destruí em pedacinhos, disse que ele deveria ter continuado sendo bartender, mas um grande homem deve ser amigo dos homens e animais, então rasguei as cartas e as reescrevi, fazendo meu melhor, dando o que achei que seriam conselhos, e ele começou a me escrever do deserto, aquele Sammy estúpido, mas no fundo ele era um cara legal, um insignificante de sangue frio, sempre referindo-se a ela como “a mexicanazinha”, contando que ela era uma bela trepada e que seria minha se a tratasse direito. “Trate-a mal, Bandini, trate-a como se fosse sujeira debaixo de seus pés, como o pó na estrada, chute-a e ela se enroscará em volta do seu pau e morrerá lá.” E esse era o cara que Camilla amava - esse era meu rival.

Então porque não? Segui o conselho de Sammy. Ela veio uma noite e Bandini estava esperando. “Olá, sua imbecil, de qual beco você veio dessa vez?” Seus olhos se arregalaram, seus lábios sorriram e ela ficou estranhamente quieta enquanto Bandini continuava: Estou ocupado aqui; se você veio para tomar meu tempo, cai fora. E funcionou! Então entendi que ela não queria ser tratada como uma rainha, como um amor de verdade, como o sonho de Cabell de mulher perfeita. Ela estava acostumada com rudeza e tinha medo de admiração. E isso me enojou, me deixou doente, e eu a expulsei, levei-a até a porta pelo braço e disse para que fosse embora e nunca voltasse. Ela foi embora delirando de desejo, pronta para cair no pó sob meus pés. Deus, que lamentável Bandini naquela noite, sua rainha preferindo ser uma escrava.

Então a noite em que fumamos maconha. No chão, pés, fiquem no chão, meus pés, mas eles flutuaram e eu estava a um palmo do chão, dois palmos e não conseguia descer e ela era tão absurda, seu corpo era tão fantástico, sua beleza era algo para se rir - e essa foi a noite de paixão sem desejo e uma sedução de Baudelaire e DeQuincey. Mas acabou tudo para nós, ela foi embora e eu deitei na cama e meu corpo não descia, mas à medida que o efeito passava, minha cabeça doía um pouco e senti algo que não sentia desde a infância, a necessidade de confissão, de castigo, de punição, porque eu tinha estragado um sonho e quebrado uma lei de Deus e dos homens. Ainda meus pés flutuavam, ainda aquele sentimento de estar fora da terra, ansiando retornar, e peguei um jarro de água, quebrei no chão e caminhei sobre os estilhaços de vidro até que o êxtase do castigo desbotasse e fraquejasse e que eu parasse antes de tombar. Essa foi a noite em que manquei até uma igrejinha católica na quadra mexicana e passei longas horas sentado em silêncio, tentando reorganizar minha vida, fazendo planos e promessas de ser um homem melhor. Sempre um homem melhor, essa era a idéia com Arturo Bandini, ser um grande homem, acima do pó da estrada, amante dos homens e dos bichos. Não mais pecar.

Os dias passaram e eu trabalhei duro e como sempre acontece comigo, quando trabalho duro há sucesso. Chega de Camilla, fiquei longe e ela não voltou para jogar pedrinhas na minha janela. Três meses se passaram e a sorte e o trabalho uniram-se subitamente para mudar o curso das coisas e uma peça que escrevi foi comprada pelo cinema e eu ganhei quase $10,000.

Então o grande homem compra novos ternos e perfuma-se e em um luxuoso coche volta à cena de suas batalhas anteriores, para conversar naturalmente com Benny, o Mecânico e dar-lhe cinco dólares para seus filhos. “Lembranças a sua esposa, Benny. Diga que lembro bem dela.” Visitar Marcus, insistindo que devo-lhe 10 pratas, ele insistindo que não, forçando-o a aceitar, repreendendo-o por sua memória ruim, contente em pagar 10 dólares por tal triunfo, um homem honesto, um grande homem, acertando velhas contas.

Então a última parada. Mas ela não está lá, outra garota está em seu lugar e o mundo está subitamente solitário e o sucesso de Bandini é vazio e incompleto. Mas ela tem que saber. Se ELA não souber, então não aconteceu. Mas todos estão taciturnos e ninguém sabe o que aconteceu a ela. Um suborno para a nova garçonete e consegui seu endereço. Eu vou até lá, conheço sua mãe - uma mulher como a minha mãe, doce mulher de coração partido vivendo em um barraco na quadra mexicana, mulher de rosto trágico dizendo-me que Camilla foi levada para Patton, o hospício. Choramos por isso e vou embora para Patton, mas eles não me deixam vê-la. Um mês depois ela é solta e vejo uma garota fantasma, terror em seus olhos e a solidão machucando. Queria uma coisa de mim - será que eu compraria um cachorro pra ela? E assim foi feito. Nós o chamamos Pancho e ela estava feliz com ele e nada mais, dormindo com ele, falando com ele, garota fantasma cuja fantasmice era uma doença e com o passar dos dias Pancho também virou um fantasma, um cão estranho com o olhar faminto e solitário como o de sua dona. Sempre ela chorava, sentávamos embaixo de um eucalipto em seu jardim e as lágrimas incontáveis caíam, Pancho uivava e seus olhos também pungiam, e eu soube que ela ainda amava Sammy. Então um dia chegou uma carta dele do deserto, queria que eu fosse lá e a pegasse e seu maldito cachorro, ela rodeava sua cabana como um mendigo pedindo migalhas de amor, ele não a suportava, que eu fosse lá buscá-la. Dirigi 100 milhas até lá. Ela se foi. Seu ford amarelo detonado, os pneus murchos, estava estacionado na estrada poeirenta em uma floresta. Onde estava ela? Sammy não sabia. Ele a mandara embora, jogara pedras no cachorro, ele estava cheio dela e não queria nem saber. E é isso, ninguém sabe. Seu carro ainda está lá, desnudado de pneus, tudo removível foi roubado. Ela se foi, engolida pelo deserto. Talvez alguém tenha a recolhido e levado de volta para o México. Talvez ela tenha voltado para Los Angeles e morrido em um quarto empoeirado. Tudo que sei é que ela se foi, o cachorro se foi, e não sobrou nada além da sua história que eu quero contar.

Tradução: Clarah Averbuck - setembro 2002
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¹ No original: yeah-sayers, literalmente “dizedores de sim”, os incrédulos, “sim claro Bandini grande escritor”.

² Atlantic (Atlântico) era o nome de uma revista, Atlântico, Pacífico, Bandini falando para mamãe como seria famoso além de todos os mares e precisava de 5 dólares.
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Wednesday, February 15, 2006

encontros virtuais todo dia, nossa viagem sem sair do lugar

É seco, é sujo e eu recomendo.

Como o Biajoni pede para ligar se não passa o telefone?

E fico aqui lembrando do dia que conheci estes dois figuras. Foi no bar, claro.
Mas o barato é que fui apresentado a eles por um senhor de vinte e poucos anos, amante de bossa nova e bebedor de vinho, o jornalista Paulo Corrêa.

Aquelas camisetas ficaram para a história, meu velho?
Sentiu a cobrança? :ob

Abraços.

Monday, February 13, 2006

Parece que o episódio ocorrido há poucos dias nos Radicais Livres acabou com o desligamento de um de seus membros.
Mas deixo aqui a pergunta que não quer calar:
André Montanher, quando é que vai criar vergonha e ter o seu próprio blog!?
Mesmo que seja para descer a lenha nos meus filmes favoritos. É bom ler teus textos.

Sunday, February 12, 2006

tell me why i don't like mondays

Quarta passada teve show dos Los Hermanos em Piracicaba.
Ontem vi os Cirandeiros e depois passei horas absorvendo informações sobre cultura popular do nordeste com a galera na mesa de bar.
Revi Quase Famosos do Cameron Crowe depois de ler trechos do livro de Lester Bangs, o Reações Psicóticas.
Assisti Edward Mãos de Tesoura porque ando fissurado nos filmes de Tim Burton.
Hoje depois da caminhada fui pesar e vi que emagreci mais 1kg e isso me deixou feliz.
Vou terminar o Pergunte ao Pó do Fante agora.
Mas ATENÇÃO: Esta vida contém cenas explícitas de tédio nos intervalos da emoção.

Saturday, February 11, 2006

Chove chuva, chove sem parar...

Sunday, February 05, 2006

podres poderes

Ano passado postei uma pequena fábula de Fred 04 do Mundo Livre S/A sobre a Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) após ter visto alguns protestos de músicos em relação à este órgão. Post do dia 12 de Abril de 2005.
No final do ano o violonista, compositor e professor Eduardo Camenietzki teve sua carteira cassada por conta de um comentário que fez sobre João Batista Viana, o presidente regional do Rio de Janeiro da OMB. Dizia que ele nada fazia além de dar um auxílio funeral e uma sede campestre para os músicos. Chamou-o de papa-defuntos.
O presidente por sua vez, ao invés de exercer seu direito e processar o músico por desacato, simplesmente abusou de seu poder e cassou o registro profissional de Camenietzki.
Os músicos estão se movimentando para exigirem seus direitos e mostrarem o repúdio em relação à OMB. Entre os que já aderiram à este movimento estão Caetano Veloso, Roberto Frejat, Zélia Duncan, Lui Coimbra, Sandra de Sá, Arrigo Barnabé, Egberto Gismonti e mais outros 700 que assinaram a lista. A meta inicial é conseguir 1.000 assinaturas. Existe também uma lista para simpatizantes do movimento.
Aqui estão os endereços para quem quiser aderir à esta lista, seguido do texto assinado pela Coordenação do Fórum Permanente da Música do Rio de Janeiro:

QUANDO A ADESÃO FOR DE MÚSICOS ENVIAR E-MAIL PARA:
joaobani@yahoo.com.br ou camenietzki@bol.com.br ou tiberiogaspar@globo.com.br

QUANDO A ADESÃO FOR DE SIMPATIZANTES ENVIAR PARA:
nana.rosana@gmail.com ou taniamelig@uol.com.br

Os músicos do Brasil (arranjadores, cantores, compositores, copistas, instrumentistas, letristas, maestros, orquestradores, produtores musicais, professores de música) abaixo assinados e inscritos nesta Lista de Adesão, por livre e espontânea vontade, vêm por meio desta manifestar seu repúdio e indignação à ação movida pela Ordem dos Músicos do Brasil - Conselho Regional do Estado do Rio de Janeiro – no dia 08 de dezembro de 2005, contra o músico Sr. Eduardo Camenietzki , inscrito naquele Conselho sob o n° 26.406, violonista, compositor, professor, membro da Coordenação do Fórum Permanente de Música do Rio de Janeiro, o qual representa perante o Fórum Nacional de Música como delegado. A nossa classe unida solicita às autoridades que promovam urgentemente uma intervenção federal na OMB. Queremos que as seguintes providências sejam tomadas:

1. Sustar o processo que o Conselho Regional da Ordem dos Músicos do Brasil - RJ está movendo contra o músico Eduardo Camenietzki com o intuito de cassar seu registro profissional e calar mais uma voz que se levanta contra as arbitrariedades cometidas pela diretoria da entidade em questão;

2. Intervir através do Ministério Publico Federal ou demais órgãos competentes com o objetivo de suspender o mandato de todos os dirigentes que estão comprometidos com as práticas autoritárias e irregulares da nossa entidade, por mais de QUARENTA ANOS, desde a ditadura militar, e promover simultaneamente novas eleições, criando novos quadros;

3. Reformar o processo eleitoral de terços, instituindo pleitos diretos de dois em dois anos;

4. Levantar imediatamente todo o patrimônio material e imaterial da entidade, adquirido com o suor dos músicos brasileiros durante décadas, garantindo sua preservação;

5 Restituir os registros de todos os músicos cassados por não concordarem com as regras impostas pela OMB, em todo o território nacional.



Quem precisa de ordem pra escrever
Quem precisa de ordem pra rimar
Quem precisa de ordem pra contar (piada)!
Quem precisa de ordem pra dançar (o samba)
Quem precisa de ordem pra inventar
Gonzagão, Morengueira (precisa o quê?)
Dona Selma, Adoniram (precisa não)
Chico Science, Armstrong (precisa o quê?)
Dona Ivone, Dorival (precisa não).


[fred 04]

Saturday, February 04, 2006

to blog or not to blog

O blog é um veículo de comunicação libertário. Não pode ser pensando como um produto tradicional, por isso ele é anárquico. Censura não pega bem, principalmente quando se trata de blog coletivo cujo nome é Radicais Livres. A auto-censura no blog individual é uma escolha pessoal. Cada um lida com seus demônios como quer ou como não-quer. Cuidado com o retrocesso.

Paulo Corrêa do blog Pauta Livri em apoio ao amigo André Montanher devido a quase censura que aconteceu devido ao post intitulado Escolha.
Faço minhas as palavras de Paulo.
Abaixo a censura!

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