Monday, May 01, 2006

sobre o tempo

Quem é o público do Pato Fu hoje?
Perguntei para os amigos que estavam comigo em direção ao Sesc Piracicaba. A gente não sabia. Mas pensando que já tiveram música até em novela, com uns sons mais pops, devem ser os adolescentes que costumamos ver em todos os shows do tal pop-rock.
Lembra quando ouvimos pela primeira vez o som dos caras?
Tínhamos 14 ou 15 anos quando os caras começaram, eu admirei muito as viagens musicais destes mineiros de BH e os conheci na mesma época em que comprei meu primeiro disco dos Mutantes.

Abre um parêntese aqui para a nostalgia:
Nesta época eu morava em São Bernardo do Campo, assistia MTV que ainda era um canal musical, fazia aulas de guitarra e produzia um fanzine que distribuia para os amigos.
Uma das edições era um especial sobre Pato Fu e Mutantes. Meu caro amigo Adriano me lembrou disso durante o show, e eu quase chorei. (risos) Este fanzine foi entregue para os brothers com uma fita cassete com gravações de trechos de um show do Pato Fu e algumas canções dos Mutantes intercaladas ali. A maioria dos amigos que liam o fanzine eram músicos (tá, eram só três ou quatro leitores) e uma das coisas que mais me orgulho na formação musical dos caras foi de ter lhes apresentado a banda de Rita, Arnaldo e Sérgio Dias.
Lembro também de escrever sobre o Nando Reis na época, pedindo atenção para o trabalho dele com Marisa Monte e Carlinhos Brown, e o cara nem tinha lançado o primeiro disco solo ainda...
Acho que eu ainda acreditava que manjava de música e isso me dava mais segurança para escrever e acertava em alguns aspectos.
Fecha o parêntese nostálgico.

Voltando ao Pato Fu.
Os caras começaram a carreira há 14 anos, com um disco independente chamado Rotomusic de Liquidificapum, que depois foi lançado pela gravadora Velas, bem experimental, com uma versão um tanto diferente de Sítio do Pica Pau Amarelo de Gilberto Gil, com a participação de 128 japs que era como John chamava a bateria eletrônica que ele programava, o disco vinha com o irreverente Hino Nacional do Pato Fu e neste lançamento estava claro que John era o frontman da banda.

Já em 1995, a banda caiu na graça da mídia e Fernanda Takai era considerada "a bela" da música daquela época, assinaram contrato com a gravadora BMG, lançaram o Gol de Quem? e conquistaram um espaço no cenário nacional, ganhando prêmios como o de Banda Revelação do 1º Video Music Brasil da MTV.

Comparações com os Mutantes surgiram aos baldes. Uma banda com três integrantes (John, Fernanda e o baixista Ricardo Koctus) que são engraçados, fazem versões completamente retardadas de clássicos como Ob-La-Di-Ob-La-Da dos Beatles, tem uma vocalista com a voz parecida com a de Rita Lee dos anos 60 e olha só, gravaram Qualquer Bobagem dos Mutantes. Sim, são os novos Mutantes! A grande mídia parece ter uma necessidade fodida de fazer comparações assim.

O que mudou para o Pato Fu agora que está em evidência na mídia? Perguntavam...
John dizia que a diferença que ele via no público dos shows do primeiro disco para o segundo era que antes tinham dez punks pulando na frente do palco, uns loucos dando mosh e trinta boyzinhos atrás só observando, e nos shows do segundo disco (disco este que já era vendido no Carrefour!) tinham cinquenta neguinhos pulando na frente do palco e cem playboys atrás só observando. O público estava crescendo.

Outro parêntese:
Uma revista chamda Trip College (filha da Trip) tinha uma página com lançamentos musicais, fizeram uma resenha tosca de Gol de Quem? com informações erradas, do tipo dizer que o autor de Vida de Operário era Falcão, o cantor engraçado do girassol. Não era. E também não é o do Rappa. Colocaram o nome errado da música dos Mutantes. Me irritei: como é que eu compro uma revista para me informar e as informações que me passam são erradas e nada novas?
Peguei meu caderno da escola e escrevi uma carta para a Trip fazendo as correções e dando novas informações sobre a banda. A carta saiu super editada ali em errata e me mandaram uns brindes para agradecer. Na época eu pensei em escrever prá eles pedindo um emprego. Não sei por que não o fiz. Eu era muito mais empolgado com tudo. E mesmo hoje acredito que eu realmente entendia de música nova naquela época. (risos)
Fecha parêntese.

Lançaram então o Tem Mas Acabou, com o sucesso Pinga, depois Televisão de Cachorro, Isopor, Ruído Rosa produzido em Londres e com direito a música na trilha sonora de uma novela global, MTV ao Vivo comemorando dez anos de carreira e agora o mais recente Toda Cura Para Todo Mal.
Mas aí esta história todos já sabem.

No show que assistimos em Piracicaba, eles tocaram muitas músicas do último disco que está lindo e algumas dos primeiros discos. Mas era engraçado reparar que só nós ali, os velhos que ainda curtem a banda, viajavam ali no meio da gurizada, e logo que terminaram de tocar a primeira música das antigas, Fernanda Takai vai ao microfone e diz: "Parece que o público aqui é bem jovem, né?"

Mesmo nas novas músicas, não vi tanta empolgação por parte dos que assistiam ali. O público vai mesmo só para ouvir os cinco hits e é isso? Depois parece que precisam "aturar" o resto do show.
Fui checar a comunidade do Pato Fu no orkut e tem um povo comentando que foi ao show, falando da alegria de vê-los ao vivo, de como conseguiram entrar no camarim e tirar fotos com os ídolos...
Acho bacana isso, eu já fui tiete, acho que ainda sou um pouco.
Mas... onde está aquela parte que nós tínhamos quando éramos jovens como estes guris, de buscar informações sobre a banda, aquela sede de conhecer tudo?
Será que basta conhecer o que todo mundo conhece?

Vi ali uma ótima apresentação, uma banda madura, tocaram os hits, mas fizeram os sons experimentais típicos deles, teve participação de um mini astronauta comandado por Fernanda Takai na música Simplicidade, o John falou com alegria do retorno dos Mutantes, contou da produção que fez do disco solo de Arnaldo Baptista... e ainda tocaram Vida Diet, que já foi postada aqui no blog umas três vezes.

Se as letras antigas que eram escritas por pessoas mais jovens, o público não conhece e as novas são escritas por pessoas um pouco mais velhas, que já são pais, falam sobre se acostumar com uma vida mais leve e não deve ter muito a ver com estes adolescentes, eu ainda quero entender: Quem é o público do Pato Fu hoje?

P.S.: Completei a coleção dos Mutantes ainda na década de noventa e ouvi os discos milhares de vezes.
P.S.2: Entrei de graça no show depois de uma conversa com o assessor de imprensa do Sesc. Durante o show discutia com o Adriano sobre o trabalho jornalístico enquanto observávamos um fotógrafo. Falei sobre a importância de conhecer o assunto para escrever sobre e queria que você pudesse ler este texto do Marcelo Costa que fala da Crítica da Música Pop. Clique e leia.

Comments:
Vc é um idealista, babe! Acredita mesmo que, naquela época, todo mundo sabia do que os caras estavam falando, e ia procurar conhecer melhor o trabalho do Pato Fu ou de qualquer outra banda Quase ninguém!
A boa música é feita da minoria que sabe, para a minoria que entende, Fá... A maioria só conhece os hits, e não faz a menor idéia de quem é a letra que está cantando errada...
 
Ei, bem legal o texto :)
 
Arrasou mais uma vez! Os parênteses são o melhor, e eu me envergonho de não saber nada disso
 
EU sou o publico do Pato Fu, um verdadeiro Pato-Fa! Eles sao o melhor show ao vivo de bandas brasileiras. E pra pessoa q ja ve eles a muito tempo, tem sempre uma novidade, tem sempre uma musica das antigas na manga pra alegrar o povo das antigas.
 
gostei do texto, e da "reflexão" ;)
ainda sou o público do pato fu, mas é bem verdade q o público hoje está muito mudado... seríamos nós o "público das antigas"?
conheci pato fu no Gol de Quem? o passo seguinte foi comprar o Rotomusic, e a partir daí todos q foram sendo lançados...
conheci o julio pessoalmente em um show do pato fu em niteroi, 1999.
grande parte das minhas amizades, aliás, vieram com o pato fu. assim a relação com a banda vai além de simplesmente ouvir as músicas e ir aos shows. os caras marcaram minha juventude =P

esse ano já vi um pedaço de show no sesc interlagos (q lugar longe!), no sábado irei a um show aqui perto de casa, no Rio. não rola mais AQUEEELA ansiedade de antigamente, mas é sempre um prazer poder ver a banda tocar ao vivo.

beijos ;*
 
ah, sim, vale dizer q, hoje, pra "conhecer" o trabalho de uma banda vc não precisa nem gastar dinheiro com CDs, como fazíamos. está tudo disponível na internet, de graça ;)
 
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