Sunday, September 24, 2006

los hermanos e o troféu 'jornalismo preguiçoso'

Assisti mais um show dos Los Hermanos. O primeiro que vi foi no Sesc Piracicaba no início deste ano. Desta vez foi no Campinas Hall, na última sexta.



Eu ia dizer que foi uma belíssima apresentação desta banda que continuo admirando um monte. Iria dizer que eles estão no final da turnê do disco 4, logo super entrosados com as canções deste. Ia dizer que a casa estava tão cheia que o Camelo e o Amarante pediram para os fãs "agitarem na vertical" para que não sufocassem quem estava na frente. Ia dizer também que o Amarante viveu um momento rock star ao dar um mosh no final da canção Condicional levando o público ao delírio.
Pensei em falar do som que rolou antes do show começar. Eu ia contar para vocês que um DJ que eu não sei o nome estava lá tocando muita black music brasileira que me lembrou das noites brazucas que vivi em Londres com muitos sons bacanas de grandes nomes da nossa música. Ia falar que pelo que percebi os fãs de Los Hermanos não parecem curtir e/ou conhecer estes sons brasileiros porque não via sequer uma cabeça balançando para acompanhar os sons e que achei uma falta de respeito do público com o DJ desconsiderar a presença dele ali, mas isso nem vem ao caso.
Eu iria comentar que pensei no Henfil dizendo que o grande barato é dividir os sentimentos com as pessoas, os gostos, mas que às vezes eu acho melhor curtir os meus sons preferidos sozinho sem ter uma caralhada de freaks gritando na minha orelha e atrapalhando a audição.
Ia dizer também que a foto acima da batera do Barba é de uma moça chamada Jenniffer que tem estes álbuns e que eu apareço em uma das fotos.
Também ia achar legal falar da saudade que sinto dos textos do Medina no Instante Anterior.
Ainda pensei em escrever aqui que hoje completei minha coleção dos Los Hermanos.

Sério. Queria dizer uma porção de coisas, mas não vou dizer nada disso.

Meu irmão me apresentou uma entrevista de um jornalista preguiçoso que acabou com meu tesão de escrever sobre o show e fez com que eu mudasse o foco.

Jornalismo preguiçoso em geral é ruim. Não aprovaria uma entrevista mal feita nem com um bandido, se eu fosse um editor chefe. Imagine o que eu faria se no lugar do bandido a entrevista fosse com um bom compositor?
O trabalho de entrevistar artistas e não ter que ficar em delegacia interrogando bandido seria uma chata obrigação para certos profissionais?
Produzir uma entrevista com um músico é muito trabalhoso? Descobrir o perfil do repórter e selecionar o mais apropriado para certas matérias é tarefa árdua para um pauteiro?
Ter personalidades interessantes para serem entrevistadas e desperdiçar a oportunidade com perguntas cretinas e levianas deveria ser um crime na profissão.
Ou seria um problema de formação acadêmica?
Se sim, este não foi o primeiro e certamente não será o último que foi formado por uma indústria chamada universidade.
A produção em massa de jornalistas deveria ter uma variedade de especialistas em diversos assuntos, mas não é o que parece acontecer na prática.

Quem merece o troféu Jornalismo Preguiçoso?

Primeiro este "jornalista" (sic) que quer saber o quanto a relação do hit Anna Júlia incomoda a banda, dizendo que eles são sempre lembrados por esta canção.
Para quem não acompanha a carreira da banda, digo que Los Hermanos não é Anna Júlia, assim como acredito que Beatles não é Hey Jude ou Yesterday. Falei sobre isso em um post de março de 2005 no qual comentava o lançamento do Cine Íris. Mas basta assistir para entender. Rodrigo Amarante lamenta ouvir certas perguntas.
Veja o vídeo aqui.

Este outro é de uma "jornalista" (sic) que chama Marcelo Camelo de Campelo e diz que eles tem parcerias com Elis Regina e Caetano Veloso. O Camelo nasceu no final dos anos 70, Elis morreu no início dos 80, certo? Can you do the math? E até o presente momento não sei de qual parceria é esta com Caetano. Quem é a fonte desta repórter?
Veja o vídeo aqui.

Há pouco tempo li um texto do falecido DJ Inglês John Peel que reclamava do silêncio de Bob Dylan com a imprensa. Se John Peel morasse no Brasil entenderia melhor a falta de vontade de Bob Dylan em ceder entrevistas. Apesar de que este não deve ser um privilégio só nosso...
Page e Plant lançaram um trabalho juntos anos depois do fim do Led Zeppelin. Deram entrevistas para jornalistas do Brasil, mas para poder entrevistá-los os profissionais da mídia precisaram assinar um contrato que dizia que leram o release, assistiram ao DVD e ouviram o disco. Boa solução para quem não quer se irritar com estes problemas.

Rage against the machine.

Porém, como a intenção era falar de uma coisa boa, encerro este post com este vídeo de Paquetá do disco 4 produzido pelo artista Ivan Mola. Este sim é um trabalho caprichado.
Enjoy it!


Comments:
Eu ia dizer que sua metralhadora giratória está formando textos cada vez melhores. Eu ia dizer que seu texto me deu uma saudade boa de Pepe Escobar. Eu ia dizer que preciso comprar o disco 4 do Los Hermanos e que seu texto fez aumentar essa urgência, Eu ia dizer que caras como você me fazem ter fé no jornalismo tupiniquim tão anêmico. Eu ia dizer não, eu digo!
Beijos com saudades...
 
Você sabe que arrebenta em seus textos neh?!
 
Valeu a força, gente.

Ainda preciso conhecer Pepe Escobar, Mara. O que encontrei por enquanto foram alguns textos polêmicos que ele "escreveu".

E, siiim, compre ou baixe o "4", que vale à pena. Ele é mais lento que os outros, mas ainda assim é bem bom.
 
Noooooooossa...fiquei com dó do nego que fez a pergunta. Há uma diferença do nego burro inocente e a burrice preguiçosa, descomprometida e perto da má-intenção. Não tem sentido a crítica de arte pressionar o artista com base em padrões e parâmetros cartesianos, ou fazendo essa justaposição ridícula da postura de um artista para uma proposta de vivência exclusiva no universo fútil das celebridades em busca da fama e da grana. O jornalista preguiçoso é sacana, meu, pau na bunda dele.
 
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