Sunday, March 11, 2007

contra o dia das mulheres

Texto de Alex Contin.

Dia 8 de março de 1857, Nova Iorque. Protestando contra as más condições de trabalho, 129 mulheres morreram incineradas dentro da fábrica que trabalhavam. Desde então a data é consagrada a relembrar ou comemorar os feitos das mulheres nas diversas áreas sociais, em todo o mundo.

De 365 dias, somente um é destinado à este fim. Os outros 364 não passam de dias comuns, continuação da luta, isso se lutam, pela igualdade entre os sexos no campo profissional e social. Sou particularmente contra esta data justamente por este fato: somente um dia é destinado às mulheres.

Esse dia é mais político e comercial que comemorativo. Políticos são os que mais aproveitam o Dia Internacional das Mulheres. Distribuem rosas vermelhas com lindas mensagens para toda mulher que vêm na frente. Sempre é aquela vereadora, aquele vereador, deputado, senador, ou pelo chefe da administração pública municipal, estadual ou nacional quem dão uma voltinha pela região para falar parabéns e aproveitar fazer um discursinho.

Em ano de eleição este propósito fica mais claro, na assinatura da mensagem, uma pequena frase aparece embaixo do nome: “Vote em mim”, vem camuflada, mas vem. Em anos normais, essas personalidades repetem a prática para manterem a posição no conceito da população, para não se apagarem, ou para fingirem que se importam com alguém.

Enquanto rosas são distribuídas, mulheres morrem vítimas de maus tratos, de fome, são estupradas, morrem por falta de condições ao parir um filho em becos e hospitais sem condições ou por tentarem abortos ilegais com medo do julgamento da família. Enquanto você abraça e diz parabéns a uma mulher, que se você for pensar, quase não faz nada pra mudar o quadro em que se encontram hoje em dia, tragédias acontecem contra uma outra mulher em outra parte do mundo.

Não sou machista, respeito muito a figura feminina, assim como respeito alguém mais velho, como respeito meu próximo. Que mulher hoje luta para ter direitos iguais? Pense bem. Muitas mulheres já foram para as ruas reivindicarem pelo direito ao voto. Muitas mulheres vestiram uma saia dois dedos acima do joelho, como forma de protesto aos modelos da época. Mas e hoje? Estamos todos, homens e mulheres, acomodados. Ninguém mais luta por um ideal, pelos seus ideais.

Somente em março é que casos de abuso sexual, agressão, diferença salarial, assédio no emprego e outros “crimes contra a integridade feminina” vêm à tona na grande mídia. Nos demais 364 dias do ano, mulheres espanholas, brasileiras, japonesas, americanas, cubanas e de todas as nacionalidades possíveis, quem sabe até as marcianas, sofrem nas mãos de homens machistas que pensam que mulheres são máquinas de limpeza, de sexo e de filhos.

Ao invés de comemorar e de parabenizar uma mulher, seria interessante utilizar este dia para divulgar as formas de defesa que a mulher tem disponível para utilizar quando são humilhadas, abusadas e agredidas. Políticos deveriam se reunir para dar andamento àquele hospital feminino que irá trazer mais condições para tratar da saúde de mães, irmãs, tias, avós, namoradas e amigas. Ao invés de comemorar, todos deveriam refletir no modo que tratam o seu próximo, não só uma mulher. Rever seus conceitos e levar em conta a história e a importância de cada pessoa na sua vida, principalmente aquelas que até hoje você tratou mal, ou simplesmente criticou sem motivos, coisas da nossa cabeça humana.

Mulher hoje não tem dupla jornada. Tem um companheiro ausente e folgado. Além de ter gerado a criança, amamentado, e agüentado as dores do parto, mesmo que tenha sido uma cesariana, a cicatrização dói, ela terá que cuidar da casa, dos filhos e colocar dinheiro em casa ainda? O homem trabalhar fora e a mulher cuidar da casa e dos filhos é, a meu ver uma divisão justa de tarefas. O homem coloca dinheiro em casa e a mulher cuida para que este dinheiro seja bem empenhado (a maioria, porque tem umas que gastam com futilidades e não cuidam dos filhos).

Agora, mulher e homem trabalhando fora, e a mulher ainda ter que cruidar da casa, a balança se torna injusta e desproporcional. O que impede um homem de fazer a comida enquanto a mulher lava a roupa, ou vice-versa? O homem trocar uma fralda suja, enquanto a mulher passa um pano na casa? A resposta é simples: o machismo, que se estende há anos, ou séculos, e mesmo neste mundo moderno e aberto em que vivemos, ainda não se dissipou das cabeças de homens E mulheres.

Dia das mães, dos pais, das crianças, páscoa, natal e outros feriados que só festejamos porque será um dia a mais de folga em nosso mundo capitalista e de proletariados, ou pela importância religiosa que tem para cada um. O dia das mulheres envolve questões políticas, assim como o dia da consciência negra. Qual a diferença dos dois? Qual é o mais importante, e qual dos dois recebe maior destaque? Estamos realmente comemorando alguma coisa?


Alex Contin, estudante de Jornalismo do ISCA.
Limeira, SP.
Contato: alex.contin@hotmail.com

Comments:
É isso aí... falou e disse...
Bj
Círia
 
Tranquei a matrícula da faculdade há um ano, mas ainda faço parte do grupo de discussão que a classe mantém no yahoo. Geralmente o povo discute se vão emendar um feriado, se informam sobre as matérias dadas, passam os dias das provas e raramente saem disso.
Fico extremamente feliz quando no meio de tanta futilidade do grupo surge um texto. E de um cara inconformado.
Nem tudo está perdido.
 
O Alex mandou muito com este texto. Eu fiquei até com vergonha de ter ganhado flores, acho que por ter concordado que ele tem toda razão e também pq eu devo estar fazendo exatamente o que ali está escrito. Puxão de orelha doido!

um beijo
 
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