Thursday, March 06, 2008

a memória é uma ilha de edição

Eu nunca apagaria minha memória, nem mesmo que estivesse na situação de Joel Barish ou Clementine Kruczynski, os personagens de um grande filme de Michel Gondry.

Play.
Jantei na casa de uns amigos queridos que estavam recebendo um casal de ingleses hoje. Conversar com britânicos me remete imediatamente à época em que morava em Londres. A gente vai lembrando de nomes de lugares, os cheiros começam surgir, as imagens aparecem na mente e sim, eu viajo. Por mais que eu esteja em contato quase diário com a língua e esteja fazendo um ótimo curso na Cultura Inglesa, não é a mesma coisa que conversar cara a cara com este povo.

Rewind.
E não tem como lembrar de Londres sem lembrar das pessoas que lá conheci. O Clenio, my boss, sempre me apresentava um povo bacana. Uma vez a gente foi buscar um CD no apartamento de um tal de Celso. Entrei na sala e já dei de cara com uma prateleira lotada de CD's e cada prateleira tinha uma classificação, "coisa de quem precisa daquilo para trabalhar", imaginei; no canto da sala tinha uma guitarra e do lado dela uma escrivaninha com um computador e uma mesa de som; "puta que o pariu", era um estúdio!

Extras.
E Londres tem muito desta coisa de ilustres desconhecidos, como uma vez que eu tava no pub trabalhando, e logo que um cliente saiu, veio meu chefe (não o Clenio, o Toby, porque eu tinha dois trampos) dizendo que o figura que fumava charuto e bebia a cerveja da casa era Johnny Rogan, um grande escritor de biografias do rock, dentre elas Morrissey & Marr: The Severed Alliance. E pensar que eu só servi o cara e fiquei no canto do balcão lendo Zen e a arte da manutenção de motocicletas, e mentalmente reclamando do cara que fumava charuto e empestiava meu local de trabalho com o cheiro ruim daquela porra e que nem me deixou uma gorjeta quando pediu a bebida.

Return.
Bom, mas aí que o Clenio disse que eu já devia conhecer o Celso, que era jornalista e escreveu muitos textos em revistas que eu deveria ter lido. O nome dele é Antonio Celso Barbieri. Aí fico lá fuçando uns discos e vejo que ele tinha gravado um disco com poemas de Charles Baudelaire e tinha também uma coletânea de metal brasileiro, que a gente tinha na loja (de discos, que eu trabalhava com o Clenio). Nada como ir montando o quebra-cabeça. Aí em um canto encontro um amontoado de credenciais de shows e festivais. Lembro de tentar me controlar, ser cool e tals, mas não resisti e fiquei olhando credencial por credencial, enquanto ele me oferecia um cigarrinho polonês.



FastForward.
Barbieri, em outra vez que nos encontramos, ficou me contando da vida em Londres e falou de um projeto onde tinha um dos seus poemas tirados da letra M do dicionário:

The moon is moving
meanwhile mankind are madly
missing the magic.
many are just making "masks"
many are deliberately making only
macabre murder machines

money mainly multiplies the mess
it makes man a mean monster
(...)

[mirage - celso barbieri]


Play.
Barbieri está com um site há um ano no ar, resgatando a memória do rock brasileiro.
Tem muita coisa boa por lá, músicas para baixar, e muita leitura: contos, poemas, entrevistas e histórias interessantes para quem pesquisa o rock nacional.
Visitem, aproveitem, e se quiserem uma recomendação, procurem pelas canções do Arnaldo Baptista, como Fique Aqui Comigo, gravado com o Patrulha do Espaço. É muito bacana.


[arnaldo baptista e celso barbieri]


Pause.
Tem algumas estórias desta época no arquivo deste blog, mais precisamente em maio de 2004.

Stop.
Boa noite.

Comments:
Acho q eu apagaria...
Começar do zero com a tela limpa, e o knowledge q eu tenho agora era uma possibilidade muito maior de ser/fazer/ter/conhecer tudo o que eu sonhei quando tinha 15 anos.

Ou não.
 
Segundo Kant o mundo é intocável! Quando, por exemplo, observamos uma cadeira, não importa de que material seja feita, quantas pernas tenha, com rodas ou sem rodas, com escosto ou sem encosto, sempre reconhecemos que é uma cadeira. Isto acontece porque "escaneamos" a cadeira e comparamos com a "história" das cadeiras vistas até aquele momento. Portanto não conseguimos realmente ter uma visão universal daquela cadeira. Quer dizer, nós podemos todos ver a mesma cadeira mas ela será sempre diferente para cada pessoa pois para cada uma ela é a soma da sua "história" pessoal. O homem na verdade só cria história! Começar do zero mas mantendo a história é impossivel! O importante é ter coragem de fazer a revolução. Enxergar os erros cometidos e corrigí-los. Poderozo é aquele que se reinventa...

Obrigado Fábio Shiraga pelo incentivo!

Celso Barbieri
Memórias do Rock Brasileiro
 
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