Wednesday, May 21, 2008

cadê você que nunca mais apareceu aqui?

Me lembro quando, ainda adolescente, comprei meu primeiro CD do Arnaldo Baptista, o Lóki da carreira solo do eterno Mutante. Estava na loja junto com meu pai e ele olhou assustado para a capa do disco:

_Amado Batista!?
_Não, pai, Arnaldo Baptista.
_Ah bom. (alívio)

Adolescentes tendem a contrariar os pais, eu lembro de vez ou outra ouvir um metal bem alto no quarto só para irritá-los. No Japão, eu fumava na sala enquanto o meu velho jantava. Coisa de pirralho perturbado. Isso passa depois de uns anos. Mas ouvir música brega só para irritar os pais seria demais, né?
Acontece que hoje, não sei exatamente porque, ando curtindo uns sons mais bregas. E não tô falando deste brega-psicodélico do Arnaldo Baptista, mas algo mais na linha do Amado Batista mesmo.

E esta semana eu assisti o belo O Céu de Suely, de Karim Aïnouz e na trilha sonora, escolhida a dedo pelo próprio diretor, tem uma canção que é muito singela que eu gostei, é uma versão brasileira de um hit americano chamado Tudo O Que Eu Tenho, interpretado por Diana. No trailer você pode ouvir um trecho da canção.

Diana é ex-esposa do Odair José, o rei das empregadas. O produtor musical Miranda, apresentando um disco do Odair José para Fábio Massari dizia que conhecia muito bem o cantor e que o cara era roqueiro, só que a gravadora exigia que ele se mantivesse fiel ao brega. Como quem é rei nunca perde a majestade, este 'lorde da poesia popular' ganhou um belíssimo tributo que foi super elogiado pela crítica e adorado pelo público, o Vou Tirar Você Desse Lugar.

Tem uma sacanagem na canção Eu Queria Ser John Lennon. Ele canta que queria ser John Lennon um minuto só, prá ficar no toca-discos e ela o ouvir. Mas termina a canção dizendo: Linda McCartney, eu quero o seu amor. Quando perguntaram porque Linda, se ela era esposa do Paul. Esperto, Odair responde: "E você acha que eu prefiriria a Yoko se tem a Linda!?"

No entanto, um cara que tem um charme brega e que admiro muito é o Zeca Baleiro. O cara consegue ter o estilo brega e ser elegante. Ele chamou Odair de "lorde da poesia popular", mas eu torço para que o Zeca herde o trono, pelo seu talento, bom humor e belíssimas canções.
Em um show que vi aqui no interior, Zeca disse ter dois projetos em mente: um disco com canções infantis (NADA INFANTIS!) e um outro com canções brega que ele deve lançar um dia e se chamará Churrascaria Psicodélica.
Uma vez eu publiquei aqui, em um comentário, a letra de uma destas canções inéditas e bem brega e muita gente chega aqui pelo Google buscando por esta letra. Então fica aqui um presente pros fãs do Zeca Baleiro e porque não dizer para os fãs de Amado Batista. A letra eu tirei deste vídeo, junto com Fernanda Mafra. Divirtam-se!

seu amado
[zeca baleiro]

"baby, por você vou até a croácia
o amor não se compra em farmácia
é remédio pra nossa loucura
baby, o amor quando não mata engorda
faz do homem gentil um calhorda
torna a meretriz uma pura
baby, o amor não tem preço nem prazo
se você me quiser me caso no civil no católico até
baby, vou te dar sacanagem e ternura
te ofertar a minha rapadura
caviar, chocolate e rapé
baby, por você eu encaro o maguila
bebo vodka. chopp e tequila
por você rasgo meu coração
baby, com você fica perto o infinto
por você ganho o jogo no grito
venha clarear meu apagão
baby, por você vou até o cu do judas
cruzo o triângulo das bermudas
corro até o rally dakar
baby, minha vida é novela sem graça
com a flor murcha, morta na praça
venha já me reger, me regar
baby, por você eu enfrento o diabo
bato no delegado e no cabo
eu não quero parecer um machão
baby, por você toda dor eu aguento
vou até bagdá de jumento
volto pra são luis num fuscão
baby, por você minha alma gera e treme
sou o jabá da sua fm
sou a cut e você o grevista
baby, o cupido é que foi o culpado
pode crer quero ser seu amado
quero ser seu amado batista
quero ser seu amado batista
quero ser seu amado batista"

Comments:
Shira, Caetano brinca com o brega tb.
Tem que ter estilo, né?
beijos.
 
O termo brega tem um carregamento jamântico de preconceito e reflete a estrutura econômica e social do Brasil. Cultura pop é cultura pop. Acho engraçado burguês imitar americano ou ingles, cantar sem saber o que diz, consumir lixo cultural dos gringos e depois chamar de brega isso ou aquilo. Voce concorda? Acho que pra se fruir qualquer coisa basta entender e depois deixar rolar a emoção que vem. De Teixeirinha a Brahams. Eu particularmente curto todos os que voce citou e nao sao mais ou menos pop que Bowie ou Pavarotti.
 
é, concordo com o camarada flavio prada. o problema é o preconceito que rola e como já falei antes, você é um cara que vê além e consegue apreciar o que é bacana. eu num gostava de um monte de coisas que hoje, que me livrei de vários preconceitos, gosto. o próprio zeca baleiro!
 
putz, eu de novo. tô aqui desocupada e passei o dia no computador, daí fico vendo coisas e querendo compartilhar.
o mário bortolotto citou lá entrevista do Tas, mas você leu a entrevista toda?
http://revistatrip.uol.com.br/166/negras/home.htm
se num leu, leia lá, tá boazaça MESMO.
 
Concordo que O Céu de Suely seja belo(sabia que quase todos os personagens tem o nome dos atores? =oO ).
Discordo que o Zeca tenha um charme brega, e principalmente que as suas canções infantis não sejam infantis.
E filme é bom caminho prá gente fazer as pazes com determinadas sonoridades... Eu, por exemplo, me entendi com o Roberto depois de Caminho das Nuvens.
 
Pois é, tem uns lances que eu ainda não consigo entender. O Caetano, por exemplo, Vivien, ele canta Peninha e não fica brega. O Peninha cantando Peninha já fica brega. [risos]

Sim J., eu sabia que os personagens tem o mesmo nome que os atores, eu vi o making of. ;-) Isso gerou um certo desconforto em alguns, mas achei jóia isso, e a explicação do Karim foi bem interessante.

Eu ainda não li a entrevista, Amanda. O Hugo, meu irmão, leu boa parte dela, e disse que ficou com a vista ruim porque a tela é preta e incomodou demais. Ele até concluiu que o site deve ser ruim para se ler para que as pessoas comprem a revista e leiam com prazer. Fez sentido prá mim.

Sim, Flavio. Concordo em "gênero e número igual!" ;-) Neguinho paga pau prá gringo brega e ignora coisas boas tupiniquins. Eu só não concordo quando você diz não curtir o Wander Wildner, que é um punk-brega! [risos] E o Dylan, quando vai rolar?

Hey, curti os comentários. [sorrisão em véspera de feriado!]
 
J., sobre o charme brega do Zeca, eu não vou discutir.
Agora sobre as letras infantis não-infantis eu discordo de você que discordou de mim.
"Papai-Mamãe", por exemplo: "você gosta de brincar de cavalinho, papai também gosta, mamãe também gosta, deixa eu também brincar só um tiquim..." não me parece muito infantil.

Mas mesmo que me contrarie, eu sorrio.
 
Fabio, eu não conhecia o Wander Windows, conheci e achei ruim. Se é brega ou não, não sei. Achei ruim, é diferente ;-)
O Dylan é agora em junho, dia 21. Não sei se vou poder ir. Atè porque tà dificil de encontrar ingresso, deve ja ter acabado. cazzo.
 
Putz tô na fissura pra ver esse filme, mas ainda não consegui descola aqui em Bijucity diga-me meu querido onde você conseguiu?
 
Você está curtindo Amado Batista porque não foi obrigado a crescer ao lado de vizinhos que ouviam AM o dia inteiro com músicas do tipo: Vem Morena, vem, vem amar/Este jovem que está sempre a te esperar/Vem morena, é noite de luar/com você, com você quero casar.
Isso quando não havia bingo beneficente na paróquia ao lado de casa e rolava de Perla a Antonio Marcos a madrugada inteira.
Ah, que lavagem cerebral! Até hoje tenho pesadelos...
 
Gde Fabio!!! Odair Jose??? Putz!!! era musica de "Zona", Na de Guararapes era. Hah muito tempo, na minha infancia querida que os anos não trazem mais...trepava a tirar as mangas...a sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais!...rs. abraço
 
Você tem toda a razão no post.Vi o show do Zeca Baleiro,adorei a musica e via google acabei no seu site. Parabéns pelo blog!
 
Olá, passei por aqui agora mas é o ultimo comentário de 2008??
Onde foi parar toda essa gente bacana que escreveu aí?Queria falar de música também, gosto muito de tudo isso discutido aí, de Julia graziela e Ammy Winehouse, passando por bob dylan, Ali Farka touré, paulinho pedra azul, gilberto gil, UAKTI, Almir Sater, Odair José, Márcio Greick, Eduardo Araujo, etc, etc, etc

abraços a todos

Nivande Machado
 
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