Friday, July 10, 2009


Beber sábado à tarde se tornou um hábito para mim há uns anos. Lembro de quando trabalhava até às 15:00 e combinava de encontrar os amigos Maurício Cash e André Montanhér às 15:10 no bar, e lá estava eu, às vezes com um minuto de atraso. Mas aí era só dar um gole à mais e estava tudo certo. Lembro de uma sequência de alguns finais de semana que tomávamos nos mesmos horários, no mesmo bar e a conta chegava no mesmo valor. Isso é passado. Hoje a periodicidade não é a mesma, os compromissos tomam conta e este ótimo hábito de beber sábado à tarde não é mais tão frequente. Não bastasse a falta de frequência, agora iremos mudar de bares para poder analisá-los com o intuito de conhecer o que de melhor e pior temos de serviço da bebida e baixa culinária local.

Vamos ao que interessa. O nosso primeiro boteco analisado foi o Bar Bem Brasil. Estivemos lá no último sábado de junho. Como convidado estava o grande conhecedor de conhaques Luiz Biajoni.


A dica para irmos lá foi do André. Eu não sabia da existência deste boteco. Das vezes que passei por lá, achei que aquilo era um açougue ou algo do gênero. Estacionamos os carros e fomos para o trabalho. A fachada lembra mesmo um açougue, e vale dizer que a bandeira do Brasil pintada na parede tem uma faixa (onde se lê Ordem e Progresso) diferente da bandeira que conheço desde criança. Mas acho que foi proposital, porque com esta faixa curvando para cima, dá a impressão de que ela sorri para os clientes que lá entrarão.

Entrei e escolhi a mesa. Enquanto André pedia a cerveja eu levei o cinzeiro sujo para uma outra mesa me lembrando do tempo em que trabalhei atrás do bar em Londres. Rolava um DVD com alguma dupla sertaneja na TV. Os frequentadores do bar nos olhavam como se fossemos aliens. O Maurício chegou e achou melhor sentarmos em outra mesa. Detalhe: o bar tem três mesas, daquelas amarelas de plástico. Peguei meu copo e fui para outra mesa enquanto Maurício reclamava que ela estava muito suja. Depois de algumas garrafas ele não mais se incomodou com a sujeira.

Chega um ambulante vendendo uma porção de coisas. Ignoramos. Um cheirinho de churrasco pairava no ar. Apareceu um segundo ambulante. Este foi mais convincente e conseguiu vender um cinto de couro para o André. O ambulante número um parou do lado da mesa e ficou encarando o nosso amigo que sempre compra algo dos ambulantes. O cara não tirou os olhos da carteira para ver quanto ele tiraria de lá e do cinto que André experimentava para ver se o tamanho estava legal. Quase falamos para o cara não ficar com ciúmes, porque o ambulante que concluiu a venda era mais velho e certamente precisava mais da grana.

Observei que este comércio de ambulante é normal por ali no bairro das Nossas Senhoras das Dores (me corrijam se não for este o nome), pois vi vários passantes perguntando dos preços e alguns comprando cintos, carteiras, relógios...

Falo para o Maurício que o Zé Ramalho participa do DVD da dupla sertaneja. Estava com o copo na mão, então levantei a cabeça para apontar em direção à TV. Maurício estava de costas, então se virou para ver a participação do Zé. Nisso, um Zé Ninguém estava no balcão e nos encarou. Me levantei e fui em direção ao balcão, Maurício veio atrás e me levou de volta para a mesa. O cara do balcão pagou a conta e saiu correndo. Eu só ia pedir mais uma cerveja.


O cheiro do churrasco abriu o apetite. Traz o cardápio, pedimos. Cardápio!? respondeu a senhora como se estivéssemos pedindo algo impossível de se encontrar em um bar. Não tem cardápio, não servem lanches, nem porções. Mas tem as conservas ali boiando nos potes de vidro. O André reparou que uma das conservas era de PALMITO! Novidade. Eles não tem só ovos coloridos, salsicha e amendoim, eles tem palmito boiando ali.
Apesar da falta de petiscos do bar, o grande atrativo ali daquela esquina é o espetinho de carne vendido do lado de fora do bar. Um pai entrou ali com o filho e os dois comiam um espetinho. Maurício conversou com o senhor que preparava e pediu um, mas não contava com o temporal que estava por vir. Choveu pedra. Blackout.

Pára um carro na calçada bem em frente ao bar. Era o Biajoni, guerreiro, chegou na chuva, mas foi muito bem recebido pelo ambulante que vendeu o cinto para o André. O senhor pegou um pano, secou uma cadeira e puxou para o Bia. Gentileza é sempre bem vista e conta muitos pontos. Todos estavam querendo fugir da chuva, e a mulher do bar falou para o senhor do churrasquinho colocar o carrinho dele mais perto da porta para não molhar. Quando olhamos estava lá o ambulante pegando uma colher de farofa que o povo usava para passar a carne e gluf, colocou na boca e jogou de volta no tupperware.


Hora de ir no banheiro. Só tem uma porta, bem vista por todos os clientes. Ela fica trancada. É só pedir a chave para a mulher do bar. Ela te entrega aquela chave presa em um fio verde (que está preto e é molhado). Humilhante. Veja a cara de desaprovação do Bia.


A luz voltou, a chuva parou e depois de algumas garrafas de cerveja e umas doses de conhaque barato já nos sentimos parte do ambiente. Hora de partir. Pedimos a conta e para nossa feliz surpresa cada um gastou menos de cinco reais.

Como ainda não nos organizamos em relação ao serviço que prestaremos aqui, não anotei preço da cerveja e nem peguei o endereço correto do bar. Mas o que posso registrar é que este bar fica perto do Isca Faculdades, a cerveja é gelada e barata, o bar tem até um estacionamento na frente, porém não serve lanches ou porções. Por lá a dica é o espetinho de carne que não provamos porque o temporal não permitiu que nosso pedido ficasse pronto. Importante: não coma a farofa e nem use a colher do tupperware.

Acredito que esta dica de boteco é válida para os estudantes do ISCA que só frequentam o bar do Vini. Experimentem este outro boteco, pode ser interessante.

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Comments:
foi um dia de SO-FRI-MEN-TO!
mas...
não é isso o JORNALISMO?
;>)
 
triste...
 
O meu sapato é mais bonito.
Agora me explique em que eu mudei.
 
Quase arrebentei meus pontos de tanto rir com o relato sobre o cara no balcão. É que por ele, senti um viés de valentia na atitude tua e do Maurício...realmente, a pobre tela branca do blog aceita tudo...
 
Adorei o texto, ri muito, fluido, bem escrito, hiper bem humorado e pra lá de "exótico".
Mas que eu não entraria nesse 'açougue'..ah, não entraria...rs
 
Passei lá na frente outro dia com o Bia, ele me mostrou onde fica essa pérola da gastronomia limeirense. Bateu até vontade de entrar.
 
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