Tuesday, September 29, 2009

perhappiness

If you see me getting mighty
If you see me getting high
Knock me down!

Se você me ver muito alto, me sentindo muito poderoso ou intragável, me jogue prá baixo. Faça isso porque algo deve estar errado. Quando me vejo lá em cima e de repente perco o chão, é foda. Pior é que depois da queda, costuma vir o coice.
Não sei dizer o que acontece, mesmo tentando ver o lado bom das coisas, vira e mexe bate esta sensação ruim. Às vezes a empolgação escapa por entre meus dedos e do nada me pego aqui, me sentindo um merda.



O fato de me sentir mal, pode ser algo produtivo se pensarmos poeticamente, mas no momento tudo o que eu consigo ver é que me sinto envergonhado por não corresponder ao que muitos pensam que eu poderia ser ou ter ou parecer. Queria mesmo era ficar só em um bar escuro, me escondendo atrás de garrafas de cerveja.

Não escrevo para explicar nada, estou apenas amontoando umas idéias que rondam a minha mente e talvez expondo aqui elas possam deixar de me perturbar. Preciso me organizar. Vou abrir uma cerveja primeiro, pode ser bom para ficar pensando.

Acabei de ler um desabafo do Mário Bortolotto em seu blog. E ele pede desculpas dizendo que precisava falar. Eu vivo desabafando e reclamando aqui e nunca pedi desculpas para você que vem aqui. Desculpa. Mas hoje eu ainda vou me lamentar. Este blog está cada dia mais vazio, sem conteúdo, diferente do blog do Branco Leone que diz ali ser um blog sem conteúdo, mas que é de um cara foda, muito foda, grande referência da literatura independente na internet. O conheci pessoalmente recentemente e só então passei a ler seu blog, mas já tem todo o respeito que um grande cara merece.

Aprecio prá caralho quando vejo pessoas como a Dre Nobre que consegue extrair o melhor do que eu expresso por aqui. Ela deixa de lado minhas lamentações, pega as dicas e as devora. Quando fico sabendo que ela conheceu o Jim Dodge por conta de um post que escrevi, penso que já valeu ter conjugado o verbo blogar na primeira pessoa. Esqueça as minhas bobagens, tá ali no subtítulo do blog, metade do que eu digo não faz sentido, mas às vezes eu dou umas dicas que prestam.

Ainda sobre Dodge, o Biajoni, que dispensa apresentações por aqui, escreveu um post inspirado e lindo sobre O Enigma da Pedra. Livro que ganhei de presente e tá ali na pilha de livros que aguardam minha leitura.

Talvez seja isso que eu precise. Leitura. Parar de postar merdas, deixar de ser um ridículo blogueiro adicto e passar a buscar algo que seja mais produtivo para mim e, consequentemente, acho que será melhor para quem estiver ao meu redor.

Um figura que tenho encontrado com frequência e sempre me instiga à ler mais é o Oliver Mann. Ele não só me dá a maior força para que eu comece escrever, como também me empresta livros, filmes e me convida para projetos excitantes, como foi a Flip. Ele foi meu professor, hoje é um grande amigo, e acho que não tem blog. Quando reclamei da falta de tempo, na época da faculdade, ele disse na maior calma que eu deveria me apressar e de quebra disse que ler Paul Auster também era necessário:

Tenho a sensação de tentar ir a algum lugar, como se soubesse o que queria dizer, mas quanto mais avanço maior a certeza de que o caminho para chegar ao objetivo não existe. Preciso inventar a estrada a cada passo, e isso significa que nunca tenho certeza de onde estou. Uma sensação de mover-me em círculos, de refazer eternamente o mesmo caminho, de seguir em várias direções ao mesmo tempo. E, mesmo que eu faça algum progresso, não estou de modo algum convencido de que chegarei aonde penso que estou indo. Só porque você vaga pelo deserto não quer dizer que exista uma terra prometida.

Note a diferença gritante: Sem ter o que falar sobre a morte dos dois grandes cineastas, apenas exibi aqui dois posters dos filmes que eu conheci; já o Jonas Lopes escreveu dois posts interessantíssimos sobre Bergman e Antonioni. Eu apenas me inicio na obra destes mestres; já o Jonas diz com propriedade que Bergman é seu diretor predileto. Lembro de já ter conversado sobre o tempo com Jonas, jornalista que admiro um montão. Ele contava dos baldes de café que tomava, das poucas horas de sono e da disciplina em relação à leitura. Um dia eu aprendo.

Eu gosto muito de blogs, mas ando puto é comigo mesmo, com minha improdutividade criativa. Sei que muito dos trabalhos que admiramos por aí, não são feitos só de talento, mas de muito suor. E posso não ser criativo ou ter o dom da escrita, mas suor é algo que eu posso dar. Me empenhar quando resolver me dedicar à algo. Deixar de ser vagabundo.

Um cara que tem uma escrita afiada e manda contos e crônicas muito boas, e mora aqui na cidade é o Cristiano Kock Vitta. Ele sabe escrever. Eu o invejo.

Um dos primeiros blogs que li e gostei muito foi o brazileirapreta da Clarah Averbuck, que avisou esta semana que este seu antigo blog ainda vive. Ela tem talento, ela sabe escrever. Eu a invejo também.

Plagiando Luís Capucho e Mathilda Kóvak, digo que um cara que usa o coração como máquina de escrever é o Marcelo Costa, que está com um novo blog, o Calmantes com Champagne, na versão 2.0. Mac é o editor do Scream & Yell, e escreve também a coluna Revoluttion. Lembro-me de ver no final de um DVD do Ettore Scola (diretor que conheci porque o Paulo Corrêa me apresentou) um release do Mac elogiando o filme. E na minha opinião, o blog tem esta função de aproximar o leitor da pessoa que escreve. E quando vejo o nome de um cara que leio diariamente nos extras de um DVD, dá a sensação de que até o diretor está mais próximo da gente, de alguma maneira.
Além de falar de música, filme e dar muitas dicas de eventos que rolam por aí, Mac também escreve sobre o cotidiano de alguém que vive em Sampa e consegue ver que mesmo em uma megalópole onde o caos e a correria impera existe coração.

Rafael Miranda, outro brother da cidade, está mandando online seus textos e poemas. Ele tinha uma banda aqui em Limeira chamada Poetas Mortos. Eu admiro vários deles. E já nem me impressiono mais quando vejo que muitos deles morreram bem mais jovens que eu, e deixaram uma obra ímpar, ou caras que já fizeram dez mil coisas que eu jamais sequer pensei em fazer. É, talvez seja este também o motivo de eu ainda estar vivo, não é? É um consolo...

Por todos estes nomes citados, sou contra quem pensa que blog é sinônimo de simples idéias espontâneas e sem importância. Tem muita coisa boa na blogosfera, a gente precisa filtrar e saber o que é que vale à pena ler.

Eu deveria estar feliz por estar rodeado de gente boa. Eu sou feliz por isso. Mas é foda quando tudo ao redor está bem e você se sente um merda.

Assisti A Concepção há pouco tempo e andei pensando no movimento concepcionista, no lance de ser um novo indivíduo a cada dia. Renascer todos os dias. Ter um novo nome, um outro perfil, uma nova profissão. E no outro dia, mudar novamente. Existe uma série de regras no manifesto concepcionista. Mas eu fiquei pensando quantas pessoas eu já fui, quantos papéis diferentes já interpretei nesta vida, sendo office-boy, corretor de seguro que usava gel no cabelo, camisa, gravata e carregava uma pasta, logo na sequência trabalhando como operário em uma fábrica no Japão, depois sendo um balconista em uma loja de música, aí um barman ouvindo história de bêbados com um sorriso no rosto para ver se descolava uma gorjeta no final do papo, um estagiário em uma redação de uma TV, e um professor de Inglês. Um outro filme que vi há pouco foi Huckabees que apesar de ser uma comédia fala sobre desconectar-se dos seus problemas e do seu cotidiano e entrar em um estado do "ser puro", é uma loucura. A pergunta que fica: Como é que eu não sou eu mesmo!?

Esta vida é mesmo uma loucura. Você sente saudade do passado?


É isso, meus caros amigos. Vou tentar organizar minha vida e isso inclui gastar menos tempo falando abobrinhas e escrevendo bobagens por aqui. Não quero choro, nem vela, aproveitem os links aí do lado, todos são jóias raras. Ou então desliguem o computador e leiam um livro, ou vejam um bom filme, ou segurem a mão de quem vocês amam e saiam para ver o sol...
Estas dicas na verdade são para mim. Eu é que estou precisando desligar o computador, ler um livro, e sair para ver o sol.
A cerveja acabou.

Amo vocês. Valeu.

P.S.: O termo "Perhappiness" não tem tradução. É uma criação do Paulo Leminski. Perhaps + Happiness = talvez felicidade. Leminski é bom até em outra língua.

P.S.2: A ilustração é de Edward Hopper, chamada New York Movie. Melancolia pura.

P.S.3: A epígrafe deste post é um trecho de "Knock Me Down", do Red Hot Chilli Peppers.

P.S.4: Este post é do dia 04 de agosto de 2007. Não alterei uma vírgula. Não sei se gosto desta idéia de estar tudo igual e ter o mesmo drama, anos depois.

Comments:
Cara, este é o terceiro blog, em poucos minutos, com uma postagem falando sobre o tempo. Às vezes fico me preocupando com isso, também. Mas na maior parte das vezes acho que a gente se preocupa demais com ele. Para mim as coisas mudaram bastante, muito do que eu escrevi já não tem validade hoje, mas não porque aquilo deixou de ser correto ou importante, e sim porque novos problemas e desafios surgiram e é preciso dar atenção a eles.

Descobri também que pensar demais sobre o tempo nos faz perdê-lo. Pense nisso.

Abraços!!!
 
lembre q não é tudo igual DURANTE tanto tempo, Fá, mas DEPOIS de tanto tempo. pq a vida é cíclica, e a gente sempre volta às mesmas questões...
 
caraca fábio, esse foi um ótimo post de lamentação. e o o último ps fê-lo genial.
eu tbm me sinto um monte de merda vira e mexe, acho que todos. mas apesar do governo português tentar complicar minha vida ao máximo essa semana fiquei feliz pq publicaram um conto e 4 poemas meus no cronópios, todos já estiveram no meu blog. mas falaremos mais em um email que estou planejando e deve chegar em breve. até.
 
Logo que comecei a ler esse post pensei em não seguir em frente por perceber que se tratava de um assunto familiar há algumas semanas pra mim (não estou reclamando dos teus desabafos, sou todo ouvidos, sempre), a tua crise de identidade. Mas resolvi continuar mole e fraco até o fim.
A questão é que eu sentia algo estranho no texto enquanto o lia. Falsidade? Ingenuidade? Realmente não soube identificar ao certo.
E a resposta veio com teu último ps.
Percebi, então, que se tratava do texto de um Fábio dois anos menos gasto.
Pois é!
 
Não sou pessoa mais indicada para servir de exemplo (nem tento), mas acho que seu post merece uns pitacos (afinal é pra isso que a gente se deprime de vez em qdo), vai lá vou coneçar parafrasenado um amigo meu, filósofo de bar, "é duro ser cidadão de primeira em tempos de quinta". Minha geração sorvia Antonioni, Scola, Bergman porque caia nas mãos nas inumeras rodadas de filme com vinho vagabundo, ao mesmo tempo que rolava muito filme B, essa aura de endeusamento sempre foi coisinha de afetado. O que quero dizer é que cada tempo tem sua graça e seu contrário e nós estamos dentro dele e desses contrários tb. Você é singularmente fino e elegante não importa de num macacão de operário ou num PUB descolado.
A delante! Beijos
 
email tá ótimo fábio! já é um imenso presente, considerando que mesmo com toda essa facilidade ninguém me manda emails. =( pobrezinha, hehehe/
 
Quando você leu esse post pra mim, te chamei de pedante.
Reli agora, com calma e, acima do seu pedido de colo, senti batendo no peito, sua adivinhação parafraseada do Leminski: "Perhappiness".
Talvez felicidade?
Refletirei essa noite sobre esse talvez.
 
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