Friday, January 15, 2010

high fidelity

Seria um desperdício se eu guardasse o texto abaixo na minha caixa de e-mails.

Como você é meu BFF, vai ter que aguentar minhas pitangas e desabafos, afinal, é pra isso que BFF existem! Mesmo que você esteja há centenas de km de distância, tomando uma cerveja e pensando na dona Fabiana.
Acabei de chegar de lá. A cidade continua linda, só que agora com mais prédios. Acho que lugar nenhum se livra da expansão imobiliária, né?
Dessa vez eu não tava nervosa, suando, nem ansiosa. Na verdade, enrolei muito pra ir logo pra lá. Podia ter ido cedo, mas acabei chegando lá umas 22h30. Por ele, eu estaria lá desde sexta feira. Me ligou milhares de vezes tentando me convencer a ir na sexta, porque aí ele podia ficar comigo parte do sábado, ou a ir mais cedo, já que ele ia trabalhar cedo no domingo. Não sei se eu queria ficar refém por tanto tempo.
Acabei enrolando, chegando tarde e meio que feliz por ir embora mais cedo. Como se, já que a gente ficaria juntos menos tempo minha culpa diminuisse também. Um caso clássico de raciocínio que funciona melhor na nossa cabeça do que no papel, ou dito em voz alta. Tipo comer um doce escondido na cozinha, como se a gente engordasse menos só porque não tem ninguém olhando.
Eu já cheguei irritada, porque quando eu tava quase na cidade vizinha ele queria me convencer a ir sozinha para o centro, e encontrá-lo já direto num hotel onde a gente ficaria, do lado de onde ele tá morando agora. Eu fiquei meio puta, e reclamei que no mínimo ele podia fingir que era um cavalheiro, e ir me buscar como a gente tinha combinado, já que era eu quem tava fazendo a maior parte do esforço. (não sei se ele percebeu, mas sair daqui, ir até a rodoviária, viajar até lá, pra encontrar um cara com quem eu tive um relacionamento (?) não muito promissor há alguns anos atras, passar algumas horas com ele, dormir numa cama que não é a minha e sem meu travesseiro, possivelmente transar, e depois refazer todo o caminho de volta). Eu desço do ônibus e ele tá lá. Mas eu finjo que não vejo, porque estou puta, e porque... pelamordedeus, ele tá de bermuda e chinelos. Quem reencontra uma paixão mal resolvida, com quem você fala religiosamente toda semana nesses trajes? Aí eu lembrei, que eu tava lá naquela cidade, que tava muito calor e que ele já tinha ido em casa assim com roupa de dia de folga milhares de vezes, quando eu ainda morava na cidade da pipoca com queijinho. Se era assim tão normal, porque me irritou tanto?
A gente se encontrou na porta do táxi, e eu fiz um muxoxo. E de muxoxo em muxoxo a gente foi até o carro dele, até o hotel (não o perto da casa dele, mas o outro que eu gosto mais e que fica beeeeem longe da casa dele. ok. nada lá fica assim tão longe de qualquer outro ponto de lá, mas ok), até o quarto. A gente ficou conversando sobre nossas vidas de agora, e sobre os nossos tempos juntos, e sobre o que a gente sentia naquele tempo, e como nos sentimos agora... Podia até virar uma canção pop em mãos habilidosas. Nas nossas vira, no máximo, algum tipo de preliminar. Falar sobre o que a gente sentia é algum tipo de masturbação sentimental. A gente sempre faz isso, e sempre termina do mesmo jeito.
Ele diz que teria largado daquela moça pra ficar comigo, se ela não tivesse grávida, e se ele achasse que eu largaria o meu namorado. Eu digo que apesar de não saber o que eu sinto, ou o porque d´eu estar ali (exceto pelo motivo óbvio), eu provavelmente não terminaria com o meu namorado, porque ELE é o cara da minha vida, e é com ele que eu me imagino velhinha. Ele diz que me ama, e eu não acredito. Depois de algumas horas ele diz de novo, e eu quase acredito. Na verdade, depois de um tempo, eu mesma quase digo, mas tenho a presença de espírito de ficar quieta e fazer no máximo, um muxoxo. Acabo falando que a gente devia tentar lembrar porque a gente parou de se ver, pra começo da história. Lembrar isso podia ser útil nessas situações.
Quando a gente se reencontrou, há um mês mais ou menos, eu me liguei que dessa vez era menos romance e mais sexo. E, se não tivesse sido tão... intenso, eu não teria voltado ontem. Na verdade, o melhor sexo do nosso relacionamento aconteceu quando a gente não se via há mais de dois anos. Isso não deixa de ser esquisito. Como a intimidade aumenta quando a gente não se vê? Dessa vez, é bom. É acima da média, mas ainda assim, da outra vez foi melhor.
A sintonia existe, e é óbvia, mas eu sinto falta de alguma coisa. Lembranças e sexo na verdade fazem uma combinação meio triste. De manhã quando ele levanta pra ir pro trabalho a gente ensaia aquele "aheuqueriaficaraquiodiatodoahporquevocêtemqueiragoraahagentesevêlogoaheuvouficarcomsaudade" e blablablá, mas a verdade é que eu fico quase aliviada quando ele vai embora e eu posso dormir sossegada sem ninguém me pegando.
Pode parecer loucura e provavelmente é, mas eu acho que, se a gente se ver mais algumas vezes, um desencana do outro.
Eu disse pra ele que o meu namorado era minha Laura e que ele era minha Charlie. E o simples fato dele entender a referência já faz eu gostar mais dele. Ele diz que me ama, e dessa vez, eu acredito. Ele me pede pra ligar quando acordar, e eu digo que não. Mas eu sei que, mais cedo ou mais tarde, vou acabar ligando.

Por que diabos a gente nunca cresce?


Comments:
Também sempre preferi a camaradagem masculina à hipocrisia feminina ao escolher meus confidentes...
O texto da amiga é de singular sinceridade e autoconhecimento. Muito bacana mesmo.
 
Primeira vez no seu blog e
PUTS que historia viu!
To meio sem folego, meio desnorteada... meio tentando entender.
Sentimento humano é realmente uma coisa dificil de entender. O ser humano é mais dificil ainda.
Enfim... a gte so tenta compreender, mesmo sem entender.
(trocadilho estranho né)
Até mais
 
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